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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O PROFESSOR É CRÍTICO?-II


Ao continuar as minhas considerações sobre o tema é oportuno que recorramos ao que foi dito anteriormente.
Procurei informar ao leitor quanto à minha concepção de crítica e porque ela se faz necessária. Sempre penso em crítica na acepção mais positiva do termo, isto é, como “apreciação minuciosa e fundamentada” ou “ análise”:  Entendo que ser crítico é estar sempre alerta (mesmo sem ser escoteiro).  É não aceitar imposições, não aderir a nenhuma proposta cujos objetivos não estejam claramente expostos, não concordar com qualquer dogma sem uma análise profunda.
Encontrei nos evangelhos um exemplo interessante, embora saiba que nem sempre é prudente misturar textos considerados sagrados com discussões dessa natureza. Jesus, segundo o evangelho, foi um crítico, na mais completa acepção da palavra. Quando lhe perguntaram se era lícito pagar tributo a César Ele, não se sentiu insultado, não agrediu e não fez calar o interlocutor. Pelo contrário, analisou profundamente a missão de quem O interrogava, as implicações da Sua resposta, e colocou as coisas no seu devido lugar, com ética e respeito (Mat. 22:17-22).
A crítica é importante para evitar que questões não fiquem suficientemente claras ou não devidamente explicadas. Nesse contexto, um professor ou expositor crítico não apresentaria uma proposta superficial como expressão da verdade. Não justificaria os resultados do seu trabalho somente culpando os outros. Não fugiria do debate responsabilizando o aluno por tudo. Um público crítico não riria de piadas inoportunas, não se contentaria com superficialidades e nem com promessas impossíveis de serem cumpridas. Não rejeitaria e nem aceitaria, a priori, nada que é novo. Não reelegeria determinados políticos e nem aclamaria qualquer um que se apresentasse como candidato a seu representante.
Criticar, nesta concepção, é avaliar, analisar criteriosamente, evitar opiniões apressadas e não concordar com tudo que se diz.  Ser crítico é não aceitar tudo o que se diz sem antes passar pelo crivo da razão. É não condenar uma idéia simplesmente porque não está de acordo com o que está sendo pensado. Ser crítico é permitir que o outro expresse sua opinião e, antes de emitir uma opinião contrária ou condenar, proceder  uma análise.
Uma situação crítica1 é aquela em que  os rumos não estão plenamente definidos e crítica é a pessoa que está atenta a isso. Na esfera das ciências humanas os pontos críticos são imprecisos, e muito sutis, tornando necessária a presença de um espírito crítico, verdadeiramente arguto, para evitar extremos perigosos e abusos de qualquer ordem ou imprudências.
Repudia-se a crítica porque os sarcásticos, os irônicos, os censuradores e os agressivos são tomados como exemplos de críticos. Entende-se que os críticos colocam empecilhos no nosso caminho, mas parece-me que essa não é a verdade. Entendo que os que criam obstáculos não são críticos - são contra. Os agressivos não são críticos, são desprovidos de civilidade. Os irônicos não são críticos, são indelicados. Eles não criticam, atacam. Esses críticos não procuram analisar o contexto, as intenções, o texto que está sendo lido e a mensagem que está sendo exposta. Opor-se simplesmente não é crítica é falta de competência para julgar. Tem-se a impressão de que, em determinados momentos, falta a esses críticos até o senso do ridículo dadas as contradições que apresentam.
Não sei meu amigo leitor se, depois destes artigos, consegui provocá-lo ao ponto de torná-lo crítico, pelo menos em relação aos meus textos e ao meu ponto de vista - que é um ponto de vista. Estou provocando você que me lê, como indivíduo, que desconheço pessoalmente, mas que sei que é um ser pensante e crítico.
 Você acha que se fôssemos mais críticos, mais conscientes, nosso país estaria como está e algumas instituições faliriam de forma tão vergonhosa como acontece? Será que muitos conflitos entre patrões e empregados não seriam minimizados em virtude de cada um saber o seu devido lugar? Será que a relação entre professor e aluno não seria menos sofrida se criticássemos mais a nós mesmos e menos aos outros?
Campo Grande, janeiro de 2012.
Antonio Sales   profesales@hotmail.com

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