O primeiro texto que escrevi sobre a dificuldade que o professor tem em apostar no outro concluí o pensamento com a frase: o professor é carente de esperança.
Algum leitor pode achar estranha tal conclusão para um texto como aquele. Resolvi voltar ao assunto para explicar o significado da frase.
Para mim esperança não tem relação com o verbo esperar. Esperança, na minha concepção, vem de acreditar, investir, apostar. Esperar (ter esperança) é diferente do verbo regular de primeira conjugação, esperar. Esperar é ativo, esperar é passivo. Quem planta espera (lavrando a terra e protegendo a lavoura) colher. Quem faz um jogo espera (investindo dinheiro) ganhar. Quem espera (passivamente) tem falta de iniciativa. Quem não planta não acredita que a terra produza, logo não tem esperança.
O professor tem esperança? Ele faz apostas? Ele acredita? Ele investe?
Pensemos um pouco sobre isso. Conduzo o meu raciocínio com base na minha experiência pessoal trabalhando como e com professores por longo tempo. Tenho ouvido as suas falas espontâneas e os seus discursos arquitetados. Tenho analisado o seu comportamento à luz da ética do cotidiano, da ética do povo, do que a sociedade espera das pessoas.
Resultado das minhas observações:
1. O professor não acredita no aluno.
Expressões como: “esses alunos não querem nada”, “os alunos cada vez aprendem menos”, “eles chegam sem saber nada”, “os alunos não estudam”, e outras equivalentes, são comuns.
Quem acredita nisso tudo não acredita que o aluno chegue a ser alguém responsável, um cidadão de bem, um empresário, um administrador, um bom professor, um escritor, ou qualquer outra coisa que valha a pena.
Para ensinar um aluno que não quer nada, e não vai aprender, não precisa preparar as aulas, atualizar os slides, alterar a ordem da ementa, estudar didática, cumprir horário de aula, aplicar provas bem elaboradas, estabelecer relações entre a ciência e a vida. Já ouviu algum professor dizendo que para o que ensina já sabe demais?
Para que pensar em mudar a organização didática se o aluno não está interessado? Para que discutir questões pedagógicas se os alunos “não estão nem aí”?
Isso me leva à conclusão de que o professor não investe na sua formação pedagógica, não pensa no seu fazer e não pensa em propostas pedagógicas. Fazer isso seria apostar no aluno, ter esperança.
Quem não acredita não tem motivação, é um professor infeliz, sem vibração. Suas aulas são “chatas”. Aulas de quem não tem esperança são “chatas”.
2. O professor não acredita em si mesmo ou no seu trabalho.
Ele não acredita que o seu trabalho possa fazer alguma diferença nesse quadro tétrico que ele mesmo pinta (e que, às vezes, é tétrico mesmo). Não acredita que consiga inverter a situação daqueles seus alunos. Não acredita no potencial transformador do produto que oferece. Parece que o professor é um profissional pré-frustrado porque vai para o trabalho esperando não obter resultados. Será que não é por isso que obtém tão poucos resultados? Professor acomodado não motiva. Professor que não acredita não produz crença.
3. O professor não acredita no potencial motivador da disciplina que ensina.
Parece que ele ensina uma ciência morta. Ou ele mata a ciência ao ensinar?
Rubem Alves, Malba Tahan e outros falam de professores que os ensinaram a gostar de uma disciplina porque deram vida à ciência que ensinavam.
Professor que não acredita que a ciência seja viva, não motiva. Não importa quão dura seja a ciência (Matemática, Física ou Química) é preciso dar-lhe vida, mas para dar vida é preciso ter vida. Professor sem vida não dá vida, não entusiasma, não produz e não leva esperança. Sem esperança nada muda.
Rolando Toro (apud GONSALVES, 2009) afirma que:
“Toda pessoa que pretende fazer mudanças tem que ter plenitude, estar cheia de vida, de força. A mudança não pode surgir de uma carência. A mudança surge a partir da superabundância.
A primeira obrigação que temos como criadores, transformadores, é parir-nos a nós mesmos. Dar-nos à luz. Nascer de novo. Isso é o primeiro que temos que fazer. Morrer para o corpo rígido, preconceituoso, tenso, cheio de doenças psicossomáticas, sem energia, angustiado, submetido ao ‘stress’. Morrer para esse corpo e renascer com mais energia, com mais vitalidade e, sobretudo, com mais amor, com mais ternura”.
É uma questão de vida ou morte. Ou o professor renasce ou ele morre e mata os seus alunos. É uma questão de tempo. E, na atualidade, com a velocidade com que as mudanças ocorrem, esse tempo não é muito longo.
Na perspectiva que proponho quem não acredita não tem esperança. Professor não acredita, logo, professor carece de esperança.
Campo Grande, 10 de janeiro de 2012.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Referência
GONSALVES, Elisa. Educação Biocêntrica: o presente de Rolando Toro para o pensamento pedagógico. João Pessoa: Editora Universitária-UFPB, 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário