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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

COORDENADOR PEDAGÓGICO EM DESVIO DE FUNÇÃO




O Dicionário Gama Cury (Editora FTD) informa que desviar pode significar “alterar o destino ou a aplicação”. Estou pesando em desvio de função no magistério porque frequentemente discuto essa questões com um colega sobre os problemas vividos na escola onde a sua esposa é coordenadora de área.
Um coordenador de área aqui no estado do Mato Grosso do Sul é um professor que assume a função de assessorar, pedagogicamente, os professores de Matemática. Há também o coordenador de área para Língua Portuguesa.
Em outros estados fala-se em coordenador pedagógico que seria um generalista, mas também com a função de assessorar pedagogicamente o professor  proposto questões epistemológicas, pedagógicas ou didáticas para a sua reflexão.
Por que em Mato Grosso do Sul não se inclui também História, Geografia e Ciências nesse rol de disciplinas cujo professor recebe assessoria?  Simplesmente porque essas disciplinas não são avaliadas pela prova Brasil e, supostamente, não são importantes.
Interessante é ver os professores reclamando que os alunos só  estudam para a prova. Daria para ser diferente? Com quem eles aprendem ou adquirem essa cultura? Não está institucionalizado que só é importante o que “cai” na prova?
Você acredita que é possível mudar esse quadro? Se acredita,  por onde você supõe que devacomeçar a mudança? Howard Gardner, em seu livro “O verdadeiro, o belo e o bom”, afirma que o poder [gestor] é um fator que determina os destinos da educação. Será que ele tem razão? Nesse caso, quem educa: o professor ou o gestor? Por que será que ninguém (professor, aluno, pais, sindicato) insiste para que as disciplinas de História, Geografia e Ciências também sejam avaliadas? Concordam que estudá-las se constitui em uma cultura de segunda classe? Ninguém acredita no valor educativo delas? Por que estão na escola? Os professores dessas disciplinas têm prestígio perante a sociedade?
Quem se torna geógrafo, historiador, tradutor, intérprete, biólogo, artista é inútil para a sociedade?  O que ele tem para ensinar não merece ser aprendido? A única forma correta de raciocinar é a forma matemática?
É claro que numa prova internacional somente o conhecimento matemático pode ser avaliado. Só ele permite comparações de rendimento porque é o único universal. Cada país tem a sua história, a sua língua, a sua geografia, a sua segunda língua, a sua arte. Parece que a Biologia e a Física também são universais, mas ficam mais caracterizadas a partir do ensino médio. Os alunos têm mais contato com a Matemática, logo, faz sentido avaliar somente esse conhecimento. Mas em uma avaliação nacional por que  priorizar o conhecimento matemático? Qual o critério de escolha?
Não discuto a avaliação do conhecimento da língua pátria. Parece-me inquestionável. Por que não somente ele? Por que não todos?
O que isso tem a ver com desvio de função? Nada. Eu é que desviei o assunto, mas já estou voltando.
Desvio de função é outra coisa. O que falei até agora é desvio de foco. Quem desviou o foco?
Estava falando de coordenador de área. Ele está em desvio de função porque, segundo informações de colegas que exercem essa função, eles coordenam a disciplina (comportamento) da escola e não os professores da área. Vivem separando briga de alunos, cuidando de chamar pais para conversar, levando alunos ao médico, fazendo contato com o Conselho Tutelar, lavrando atas de ocorrências, etc. Enfim, fazendo de tudo, menos assessorar pedagogicamente o professor. Não está na hora de denunciar essa situação ao Ministério Público? A educação está mal conduzida. O dinheiro está mal empregado porque encarregar um professor de Matemática, por exemplo, para administrar conflitos é pouco produtivo. Esse profissional só aprende lidar com ideias matemáticas, quando aprende. A maioria, seguindo o padrão a universidade brasileira, só aprende seguir modelos. Há exceções, mas são poucas.
Mediar conflitos entre seres humanos não tem nada a ver com resolver uma equação ou efetuar uma operação matemática. Muito menos com seguir modelos prontos.
Quem deveria ser contratado para atuar nesse serviço disciplinar  da escola deveria ser:
a)                      O psicólogo educacional ou psicopedagogo para mediar conflitos entre alunos e orientar os alunos que já perderam o interesse em estudar;
b)                      O assistente social  para mediar a relação pais/escola, pais/filhos e escola/ outras instituições (Conselho Tutelar, Ministério Público).
A indisciplina (em algumas escolas violência) na escola não dá tréguas e se o professor for cuidar disso ele não dá aulas. Se o coordenador de área for cuidar disso as questões pedagógicas ficam prejudicadas. Se o diretor se encarregar da disciplina a escola fica sem ser administrada, as questões trabalhistas ficam a esperar, a manutenção da ordem e do prédio fica esquecida.
Portanto, desvio de função é um professor  que assume a coordenação pedagógica ficar cuidando da disciplina, das relações entre a escola e outras instituições  e ficar separando briga de aluno.
Será que um dia o Sindicato vai brigar por isso?
Antonio Sales  profesales@hotmail.com
Campo Grande, 07 de outubro de 2012.

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