O Dicionário Gama Cury
(Editora FTD) informa que desviar pode significar “alterar o destino ou a
aplicação”. Estou pesando em desvio de função no magistério porque
frequentemente discuto essa questões com um colega sobre os problemas vividos
na escola onde a sua esposa é coordenadora de área.
Um coordenador de área
aqui no estado do Mato Grosso do Sul é um professor que assume a função de
assessorar, pedagogicamente, os professores de Matemática. Há também o
coordenador de área para Língua Portuguesa.
Em outros estados
fala-se em coordenador pedagógico que seria um generalista, mas também com a
função de assessorar pedagogicamente o professor proposto questões epistemológicas, pedagógicas
ou didáticas para a sua reflexão.
Por que em Mato Grosso
do Sul não se inclui também História, Geografia e Ciências nesse rol de
disciplinas cujo professor recebe assessoria?
Simplesmente porque essas disciplinas não são avaliadas pela prova
Brasil e, supostamente, não são importantes.
Interessante é ver os
professores reclamando que os alunos só
estudam para a prova. Daria para ser diferente? Com quem eles aprendem
ou adquirem essa cultura? Não está institucionalizado que só é importante o que
“cai” na prova?
Você acredita que é
possível mudar esse quadro? Se acredita,
por onde você supõe que devacomeçar a mudança? Howard Gardner, em seu
livro “O verdadeiro, o belo e o bom”, afirma que o poder [gestor] é um fator
que determina os destinos da educação. Será que ele tem razão? Nesse caso, quem
educa: o professor ou o gestor? Por que será que ninguém (professor, aluno,
pais, sindicato) insiste para que as disciplinas de História, Geografia e
Ciências também sejam avaliadas? Concordam que estudá-las se constitui em uma cultura
de segunda classe? Ninguém acredita no valor educativo delas? Por que estão na
escola? Os professores dessas disciplinas têm prestígio perante a sociedade?
Quem se torna geógrafo,
historiador, tradutor, intérprete, biólogo, artista é inútil para a sociedade? O que ele tem para ensinar não merece ser
aprendido? A única forma correta de raciocinar é a forma matemática?
É claro que numa prova
internacional somente o conhecimento matemático pode ser avaliado. Só ele permite
comparações de rendimento porque é o único universal. Cada país tem a sua
história, a sua língua, a sua geografia, a sua segunda língua, a sua arte.
Parece que a Biologia e a Física também são universais, mas ficam mais
caracterizadas a partir do ensino médio. Os alunos têm mais contato com a Matemática,
logo, faz sentido avaliar somente esse conhecimento. Mas em uma avaliação
nacional por que priorizar o
conhecimento matemático? Qual o critério de escolha?
Não discuto a avaliação
do conhecimento da língua pátria. Parece-me inquestionável. Por que não somente
ele? Por que não todos?
O que isso tem a ver
com desvio de função? Nada. Eu é que desviei o assunto, mas já estou voltando.
Desvio de função é
outra coisa. O que falei até agora é desvio de foco. Quem desviou o foco?
Estava falando de
coordenador de área. Ele está em desvio de função porque, segundo informações
de colegas que exercem essa função, eles coordenam a disciplina (comportamento)
da escola e não os professores da área. Vivem separando briga de alunos,
cuidando de chamar pais para conversar, levando alunos ao médico, fazendo
contato com o Conselho Tutelar, lavrando atas de ocorrências, etc. Enfim,
fazendo de tudo, menos assessorar pedagogicamente o professor. Não está na hora
de denunciar essa situação ao Ministério Público? A educação está mal
conduzida. O dinheiro está mal empregado porque encarregar um professor de
Matemática, por exemplo, para administrar conflitos é pouco produtivo. Esse
profissional só aprende lidar com ideias matemáticas, quando aprende. A
maioria, seguindo o padrão a universidade brasileira, só aprende seguir
modelos. Há exceções, mas são poucas.
Mediar conflitos entre
seres humanos não tem nada a ver com resolver uma equação ou efetuar uma
operação matemática. Muito menos com seguir modelos prontos.
Quem deveria ser
contratado para atuar nesse serviço disciplinar da escola deveria ser:
a)
O psicólogo educacional ou psicopedagogo
para mediar conflitos entre alunos e orientar os alunos que já perderam o
interesse em estudar;
b)
O assistente social para mediar a relação pais/escola,
pais/filhos e escola/ outras instituições (Conselho Tutelar, Ministério
Público).
A indisciplina (em
algumas escolas violência) na escola não dá tréguas e se o professor for cuidar
disso ele não dá aulas. Se o coordenador de área for cuidar disso as questões
pedagógicas ficam prejudicadas. Se o diretor se encarregar da disciplina a
escola fica sem ser administrada, as questões trabalhistas ficam a esperar, a
manutenção da ordem e do prédio fica esquecida.
Portanto, desvio de
função é um professor que assume a
coordenação pedagógica ficar cuidando da disciplina, das relações entre a
escola e outras instituições e ficar
separando briga de aluno.
Será que um dia o
Sindicato vai brigar por isso?
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Campo Grande, 07 de
outubro de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário