Escrevi no texto anterior que
mais dinheiro para a educação não garante melhoria na qualidade da mesma. Creio
ser oportuno fazer um pequeno reparo acrescentando que isso não acontece a
curto e médio prazo. Talvez contribua a longo prazo porque o aumento no salário
poderá motivar muitos jovens a ingressarem no magistério. Esse fator aumenta a probabilidade de que jovens comprometidos
com a educação e ousados nem suas iniciativas ingressem na carreira.
Também escrevi no texto
anterior que ninguém (nenhum professor) pergunta ao promotor da
infância e da juventude ou ao conselho tutelar o que fazer com o aluno que se
recusa dar atenção à aula ou participar das atividades propostas, que não faz
tarefas, que desrespeita o professor.
Talvez haja alguma razão para isso, isto é, para que o professor
não faça essas perguntas. Fiz algumas suposições:
1.O professor teme ter uma
resposta que não quer aplicar. Ele não quer mais compromisso com a educação. Está desmotivado. Essa é uma hipótese.
2.A outra hipótese é que ele já
sabe a resposta que vai receber. “Tem que dialogar como o aluno”. Como ele já
gastou toda a sua habilidade dialógica e não conseguiu nada então nem quer
tentar ouvir isso outra vez.
3.Ele não sabe ser professor,
isto é, não sabe separar o pessoal do profissional, portanto, não saberá fazer
nada do que for recomendado.
Com relação à primeira hipótese é um fato já comprovado pelas pesquisas que
aumenta a cada ano o número de professores com a Síndrome de Burnout. Estão sem energia ou sempre
estiveram sem energia? Quem está desmotivado
já não estaria quando ingressou? A pergunta parece intempestiva, mas merece uma
pesquisa.
Com relação à segunda hipótese devo concordar que o
diálogo é a melhor saída para os problemas. Uma única ressalva: ele é a melhor
solução para os problemas que têm solução. Quando se trata de relações humanas
há situações em que uma das partes
envolvidas não está interessada em resolver o problema. A situação
constrangedora para o outro satisfaz o seu ego ou representa uma vingança contra
alguma situação constrangedora que sofreu em algum outro lugar.
Se ela está se vingando como irá se abrir para o
diálogo com quem não vai resolver o seu problema?
O diálogo com uma pessoa assim requer um preparo e
um tempo especial que o professor não tem.
Há casos em que o tratamento é longo e requer profissional
especializado. Mesmo assim existem as reincidências múltiplas que atestam a
complexidade do problema.
Para dialogar com alguém que se insubordina é
preciso olhar nos olhos
Nossas crianças e jovens já perceberam que com a curvatura da vara o adulto está fragilizado perante ele. Ele não teme mais o olhar nos olhos e se
o professor fizer isso será denunciado pelo aluno como estando querendo
intimidá-lo, sendo ameaçador, etc.
A defesa do mais fraco é legítima, mas não pode ser
indiscriminada. É preciso defendê-lo de abusos, mas não de ser educado.
A receita de um diálogo para quem já está pedindo
socorro não ajuda muito. É preciso algo mais, é preciso mediação, intervenção. É por essa razão que defendo que
o aumento de verbas para a educação deve vir acompanhado de um projeto para
atender essas emergências que não são poucas. Os anos de tratamento inadequado
ao problema agravou a situação. Os problemas vividos nas favelas do Rio de
Janeiro e a união de forças das diversas esferas do poder público, para retomar o controle, são um exemplo do que estou dizendo. O
contexto escolar não difere muito do que
foi vivido lá, exceto, talvez, na intensidade por causa da pouca idade dos
envolvidos e do preparo do professor.
Por último
preciso explicar o que quero dizer com não saber ser professor. O professor é
um profissional que normalmente não tem no seu curso uma disciplina chamada
ética profissional. Há pouca, quase nenhuma, discussão sobre a solução de
conflitos em sala de aula, sobre o que é ser profissional. É preciso melhorar o
programa das licenciaturas. O professor das licenciaturas deve ser alguém que
viveu a sala de aula na educação básica e teve sucesso.
Melhorar a educação requer tudo isso.
Nova Andradina, 22 de setembro de 2012.
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