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sábado, 3 de março de 2012

A CURVATURA DA VARA: ALUNO OU PROFESSOR?

Há algumas décadas, os mais vividos ainda se lembram, quando um aluno chegava em casa dizendo que foi punido na escola os pais ( a maioria deles) tomavam imediatamente ao partido da escola. Alguns mais rigorosos ainda surravam o filho sem mesmo ouví-lo.
Esse procedimento, relembrado com saudade pelos professores, se fundamentava na crença fortemente arraigada de que os que ocupavam  posições de responsabilidade na sociedade eram  nobres de caráter. Reis eram herdeiros da divindade e barões, marqueses, professores, juízes  etc. eram inquestionáveis benfeitores da humanidade. Eram valentes, destemidos, verdadeiros, inteligentes. Tais pessaos eram dotadas de uma tal  integridade moral que as tornavam  imparciais, íntegras, justas. Eram pessoas que nunca erravam.
Em tal cultura parece evidente supor que o aluno sempre estivesse errado, que  o pobre não tivesse direito à voz, que a mulher deveria se contentar em trazer os chinelos para o senhor seu amo ( o homem era por natureza herdeiro de um autoridade sobre ela) e o negro nascesse para a escravidão. Tais pessoas nada tinham a reclamar uma vez que não eram nobres, logo, eram merecedoras de punição a priori. Na realidade, elas erraram ao nascer.
Criança estava sempre no lugar errado. O mundo era dos adultos e, ainda assim,  não de todos eles.
Felizmente,  o tempo passa e traz mudanças. As  mudanças chegaram  e agora é a vez dos que não tinham vez. Fico feliz em ver as mulheres e o negros sendo tratados com a dignidade que merecem. Fico feliz em ver os alunos, as crianças,  tendo vez.
Se com relação aos negros e às mulheres (adultos) já chegamos a um acordo, exatamente por serem adultos e saberem cada um as suas responsabilidades, o mesmo ainda não aconteceu com relação aos alunos da educação básica. Em alguns aspectos as mudanças em relação a eles provocaram a chamada “curvatura da vara”. Penderam excessivamente para o outro lado. 
Muitas mudanças são lentas e, infelizmente, nem sempre acompanhadas de  equilíbrio.  O equilíbrio é uma etapa posterior e, em muitos casos, difícil de alcançar. Com relação ao direito das crianças o equilíbrio ainda não ocorreu exatamente por serem crianças e não saberem ainda dimensionar os seus limites.
Se antes o professor sempre tinha razão agora é o aluno que sempre tem razão.
É preciso refletir sobre isso com cuidado.
Não é mau tomar posição imediata a favor do aluno.  Antes de apurar os fatos é melhor proteger o mais fraco. Antes protegia-se o mais forte. Estava errado. Na dúvida  deve-se sempre poscionar-se a favor do mais fraco.
O problema, portanto, não é acreditar no aluno. O pronblema é não fazer averiguação dos fatos, é ouvir só um lado. O problema é empurrar o problema para “debaixo do tapete” e acalmar a consciência só porque foi a favor do mais fraco.  Na dúvida, a favor do mais fraco mas a dúvida não  pode ser prolongada demais.
O problema, na realidade, é a acomodação, a irresponsabilidade dos adultos.
Alguérm dirá, mas se eu for à escola cada vez que meu filho sofrer alguma sanção eu não consigo trabalhar mais. Engano. Se da primeira vez que isso acontecer, você for à escola se informar, apurar os fatos e depois tomar posição ao lado de quem estiver certo possivelmente precisará ir apenas uma vez na escola porque a partir dai o aluno e os professores tomarão mais cuidado. O problema, prezado pai ou mãe, é que você não saber o que fazer e os professores não estão dipostos a ajudar.
É preciso que  escolas e pais dialoguem, se aproximem. Vejo porém uma dificuldade em conseguir essa aproximação que seria benéfica para todos. Por um lado os professores não abrem mão de serem os que estão agindo corretamente sempre. Nas reuniões de pais isso fica bem evidente. Os alunos, na fala dos professores, estão sempre errados,  são sempre os desinteressdos. Subentende-se que os pais não estão fazendo  o “dever de casa”.  Nunca um professor admitiu ter cometido o erro de não elaborar uma técnica didática propriada. Ele nunca precisa atualizar os seus conhecimentos, nunca se posiciona  como disposto a colaborar com os pais. Estes é que devem sempre colaborar com os professores repreendendo os seus filhos, cuidando do cumprirmento das tarefas, etc.
 Como é possível um diálogo quando um lado está sempre certo e o outro sempre errado? Quando um só espera resultados favoráveis e o outro só tem obrigações a cumprir, e ainda acumula a culpa de algo não dar certo, é possível o diálogo?
 O profissional sabe dizer aos pais, claramente, o que espera deles e o que pode fazer por eles? O profissional já chamou um pai e se colocou à sua disposição
para ajudá-lo na educação do seu filho?
Educação é tarefa da família dirá alguém, assunto que comentarei num próximo  texto. Por hoje insisto que professor deve ajuadar os pais na educação dos filhos. Se ele não sabe como fazer tudo bem, que admita isso. Mas, dizer que não é sua obrigação ajudar é irresponsabilidade.
Por último a questão intrigante: por que os professores, que na maioria são mulheres e muitos são negros, têm saudades daquele  tempo?
Nova Andradina, 19 de fevereiro de 2012.
Antonio Sales  profesales@hotmail.com

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