Na semana passada tivemos o Dia Internacional da Mulher. Pensei em escrever uma mensagem para elas, mas, por estar envolto em múltiplas atividades, a mesagem não fluiu e resolvi deixar para hoje. Estou um pouco atrasado. Peço desculpas.
No dia 8 estava participando de um Seminário de Pesquisa e a Profa Dra Gelsa Knijinik que fez a conferência de abertura prestou, na introdução da sua fala, uma homenagem às mulheres.
Ela lembrou o preconceito de homens ilustres, e até de personagens lendários, contra as mulheres ao longo do tempo. Pitágoras, por exemplo, via a mulher como criação de um deus mau. Hipátias (ou Hipácias) a primeira mulher cientista (matemática, filósofa, etc.) de que se tem noticia, e que teria nascido por volta de 485 d.C., foi violentada e morta dentro da igreja, com a anuência do Patriarca (líder espiritual), por representar um perigo para os homens.
Hoje, segundo dados de pesquisa, a situação está bem melhor. Estamos quase em equilíbrio. Em 2010, segundo dados da FAPESP, órgão financiador de pesquisas no Estado de São Paulo, 42% dos projetos submetidos para financiamento foram propostos por mulheres e, em 2011, houve um empate técnico entre o número de projetos submetido por mulheres e o número de projetos submetido por homens. Isso representa um ganho muito grande em termos civilizatórios. Já houve tempo de 100% x 0%, 90% x 10%, etc.
Convenhamos, porém, que essa ascenção das mulheres não foi um presente dos homens. Foi uma conquista delas. É mérito delas.
O Dia Internacional da Mulher ainda se justifica apenas como uma lembrança da luta que elas travaram para conseguir esse espaço, mas ela já não precisa mais ser bajulada em canções e poemas como se fazia antigamente. Naquele tempo matava-se (humilhava-a, desprezava-a, fazia-se dela um objeto de cama e mesa) a mulher e depois adornava (bajulava) o seu túmulo (a sua autoestima baixa) com flores (versos e canções).
Hoje ainda é justo que lhe dediquemos flores, mas que estas lhes sejam entregues em reconhecimento pelos seus méritos e não como uma forma de lhe dizer: “veja como eu sou bom para você”.
Mudando um pouco o rumo da minha fala cito aqui as palavras de Tournier (1988).
Esse psiquiatra suíço, escreveu em 1978, aos 80 anos de idade o seguinte:
“Nossa civilização ocidental é masculina, completamente organizada segundo os valores masculinos: fria objetividade, razão, poder, eficiência, rivalidade. Essa foi a escolha da Renascença. Ela implicava o repúdio dos outros valores, irracionais e subjetivos, dos sentimentos, das emoções e da relação pessoal. [...] Sim, eu acredito em uma missão para a mulher nos dias de hoje. O homem a afastou da vida pública e construiu sem ela a nossa civilização técnica ocidental: uma sociedade masculina completamente organizada segundo valores masculinos, à qual falta, de maneira trágica, o que poderia ser a contribuição da mulher.”
O mesmo autor discorre sobre o significado das suas palavras. Ele afirma que, em termos relacionais, homem e mulher estão em pólos distintos. O homem norteia-se pela relação “eu-aquilo” e a mulher, pela relação “eu-você”. Embora a relação “ eu-aquilo” seja mais duradoura o eu posta-se como um sujeito neutro, frio, observador, sem compromisso emocional com o objeto da minha relação. A relação “eu-você” é mais frágil, porém, nela o eu se envolve pessoalmente com o outro, não há neutralidade. Não é uma relação “de observar, analisar, estudar, oferecer um julgamento moral ou um diagnóstico psicológico”. “Eu-você” envolve compromisso.
Psicanalistas, entre eles Freud, observaram e descreveram o mundo masculino como um mundo impessoal. Para um menino o ursinho de pelúcia é apenas um brinquedo, é algo para chutar, rasgar e abandonar em um canto. Para uma menina ele é um confidente, é o seu amigo, é uma pessoa.
Uma árvore, para um garoto, é algo para ser dominado (ele sobe na árvore e quebra os seus galhos) e abandonado (faz xixi no seu tronco). Para uma garota a árvore é uma confessora, um lugar de recados amorosos (desenha corações e escreve no tronco nomes de pessoas as quais ama). A sombra a árvore é, para a menina, o lugar de “escrever” o seu diário de emoções e, para o menino, o lugar da espreita pelo passarinho incauto ou para contar aos amigos as suas “vitórias” sobre o oponente.
É curioso que quando uma menina não tem apego ao seu ursinho de pelúcia, etc., as mães dizem que é uma “moleca”, isto é, tem um comportamento de moleque.
O homem coisifica o que toca e a mulher personaliza os objetos de sua relação. É por essa razão que o autor citado afirma que a sociedade construída sem a mulher é fria e competitiva.
Agora que a mulher conquistou o seu espaço alimento a esperança de que a sociedade seja mais humana.
Parabéns, Mulheres!
Campo Grande, 10 de março de 2012
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Referência
TOURNIER, Paul. A Missão da Mulher. São Paulo: Vértice; Editora dos Tribunais, 1988.
Senti-me homenageada com texto tão bonito.
ResponderExcluirMuitas das informações eu as desconhecia.
Obrigada por entender um pouco do universo feminino!
Obrigada por reconhecer nossa luta!
Obrigada pelo carinho!