Suponho que nenhum professor discorda de que conhecimento é necessário e nem da importância dos intelectuais no meio educacional. Queremos reforçar a necessidade de que se invista nos nossos jovens para que se tornem sábios, cultos e críticos.
Sei que quando se ouve a palavra “crítica” sente-se um calafrio na espinha. Há uma tendência geral de achar que os críticos são sempre maléficos e devem ser evitados a todo custo. Eles não devem existir, pensamos. Especialmente quando se trata de ser alvo da crítica pensamos que não deve haver lugar para ela. É como se fôssemos sobre-humanos, possuíssemos prerrogativas divinas. Parece que supomos que já sabemos tudo, que não há mais nada aprender, que se as coisas não funcionam é sempre culpas dos outros.
Isso, no entanto, não é a verdade. Cometemos um equivoco quando rechaçamos a idéia de que deva haver professores críticos, alunos críticos e pais críticos. O problema é que nos apegamos à pior acepção da crítica que é a censura sem fundamento, o ataque à pessoa do outro. Confundimos ironia e sarcasmos com crítica. Confundimos busca de culpados com crítica e quase nunca pensamos em crítica como sendo uma “apreciação minuciosa e fundamentada” ou “ análise”*. Com certeza, precisamos de críticos. Críticos jovens e velhos; de professores e alunos críticos.
O que faz um crítico que o torna assim necessário?
A primeira missão do crítico, neste contexto, é a autocrítica, a análise dos seus próprios atos e intenções. O verdadeiro crítico exerce constante vigilância sobre si mesmo. Se fôssemos críticos não temeríamos tanto a crítica.
Em segundo lugar, nenhuma crítica deve ser de cunho pessoal. Não se deve criticar alguma coisa porque não se tem simpatia para com a pessoa que está realizando, porque não gostamos do que está sendo feito ou porque quem faz não é do “meu time”. O que uma pessoa faz não está, necessariamente, errado só porque ela não pediu a nossa opinião ou porque não gostamos do que está fazendo.
Em terceiro lugar, a crítica tem a função de alertar, de advertir, de prevenir, de corrigir.
O problema é que por não pensarmos nessa hipótese, de existir uma necessidade de crítica, de uma função para a crítica, não preparamos ninguém para ser crítico e nem o toleramos. Até mesmo impedimos que ele surja. O que é pior, confundimos crítica ao que está sendo feito com crítica à pessoa. Quase sempre tomamos crítica como sendo algo pessoal e, por essa razão, nos sentimos ofendidos.
De fato alguns críticos atacam a pessoa e ofendem grosseiramente. São os críticos no sentido de censuradores, sarcásticos, irônicos, ou que fazem sempre “julgamento desfavorável”
É possível separar uma pessoa dos seus atos? É possível criticar o que uma pessoa faz, escreve ou fala, sem criticar a pessoa? Há quem pensa que não, mas entendemos que é possível sim fazer essa separação. O leitor já deve ter passado pela experiência de tentar fazer algo, com a melhor das boas intenções, e descobrir que ao executar seu plano adotou uma estratégia não muito adequada e os efeitos foram totalmente contrários ao que havia sido planejado. Nesse caso o leitor não estava errado, errada estava a sua estratégia e, se alguém tivesse criticado a sua estratégia logo no início, talvez tivesse sido possível corrigir e salvar o plano, modificar as ações e evitar o prejuízo. Nesse caso a crítica não seria à sua pessoa ou ao seu plano, mas sim à estratégia adotada.
É possível o leitor criticar o que escrevo nestas páginas sem atacar a minha pessoa. Pode perfeitamente discordar do que estou dizendo, mas não pode partir do pressuposto de que sou mal intencionado.
Talvez os críticos que conhecemos sejam maldosos e queiram sempre nos prejudicar e, a partir dessa experiência, generalizamos e entendemos que todos são assim. Também é possível que quando criticamos não estejamos imbuídos de boas intenções e então supomos que todos sejam como nós. Talvez nos falte autocrítica e, consequentemente, a crítica externa nos incomode.
Críticos são necessários. Eles podem evitar males de conseqüências funestas. Se forem ouvidos, podem evitar erros administrativos e didáticos. Os gestores escolares, professores e pais, se admitissem críticas (e soubessem criticar) poderiam desenvolver um melhor trabalho e a educação poderia causar um melhor impacto na sociedade. Talvez, conseguíssemos fazer alguma diferença; possivelmente fôssemos mais mobilizados, mais éticos no agir; quem sabe haveria mais democracia na escola, mais transparência na administração, menos pressão sobre os professores e mais decisões conjuntas.
Se houvesse mais críticos talvez errássemos menos. Se fôssemos mais autocríticos talvez ouvíssemos mais e a nossa atuação fosse mais beneficiadora.
Campo Grande, 17 de dezembro de 2011.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
*Ver o verbete “crítica” nos dicionários.
Professor é disso que a sociedade precisa deste tipo de crítica, aquela que não oprime, mas aquela que possa realmente reestruturar ou mesmo construir algo bom.
ResponderExcluirGlaucia Bravin
Precisamos de crítica que nao oprime. Muito bem Glaucia.
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