Por vezes sou convidado a falar a um grupo de professores. Os que me convidam sempre têm a preocupação de me prevenir de que tenha cuidado no que vou falar porque alguns deles são muito críticos. Inicialmente fico feliz com a observação. Depois vem certo estado de depressão pelo que ouço e vejo acontecer.
Antes de prosseguir vamos ver o que o dicionário eletrônico publicado em Portugal pela Editora do Porto diz sobre crítica:
Crítica s.f. (1)arte de julgar uma obra de caráter intelectual, artístico ou literário; (2)apreciação de uma criação intelectual, artística ou literária; julgamento, análise; (3)conjunto de pessoas que exercem a atividade de crítico;(4)juízo moral ou intelectual; (5) ato de censurar; (6)julgamento desfavorável.
O minidicionário Gama Cury acrescenta: “apreciação minuciosa e fundamentada”.
Sempre que penso em crítica penso em “análise” e “apreciação minuciosa e fundamentada” e por isso fico feliz em ouvir que alguém é crítico. Fico triste depois porque só recebo censura (dos que se dizem críticos) sem ser fundamentada. A crítica que ouço é baseada nas frustrações anteriores e no desejo de culpar alguém. Sempre esses críticos querem me provar que nada dá certo, que eles são os mais infelizes de todos, trabalham no pior lugar e com o pior aluno. Só não admitem ser os piores professores e estarem sendo o meus piores ouvintes.
Quando falo da minha experiência, como professor em classes multisseriadas no Pantanal Sul-mato-grossense, dizem: “mas naquele tempo!”. Se falo da minha experiência nas escolas de educação básica na periferia em Campo Grande dizem: “mas não se compra com os alunos hoje”.
Não tenho tendência a ser irônico, exceto comigo mesmo e até isso tenho evitado ultimamente, portanto, nunca vou ironizar os meus críticos (censuradores) mas gostaria que eles soubessem o que penso a respeito na hora em que ouço tais lamúrias e censuras.
Penso em dizer-lhes que não defini em que escolas eles iriam trabalhar, que não escolhi os melhores alunos para mim e os piores para eles. Aliás, muitas vezes, eles se comportam como os piores alunos que tive. Logo, não sou um privilegiado.
É exatamente por ter passado pelas mesmas dificuldades pelas quais passam que tenho vontade de falar-lhes. Vou para lhes dizer que apesar dos percalços é possível ser um profissional realizado. Também gostaria de dizer-lhes que o lugar para certas reclamações é no sindicato da categoria. Todo sindicato deveria ter contato com intelectuais que pudessem pesquisar e escrever sobre essas dificuldades que tanto angustiam os professores.
O que eu esperava de um profissional que deve ser um intelectual?
Primeiramente que analisasse se o que estou falando tem lógica ou não. Que não se prendesse ao fato de agradar ou não agradar. Agradar é uma questão pessoal, a lógica não. Portanto, esperava receber um julgamento impessoal. Que não fosse a minha pessoa que estivesse em jogo, mas a pertinência das minhas ideias.
Em segundo lugar esperava que o julgamento não fosse uma busca de desculpas por se estar vivendo um momento difícil ou decepcionado com sua a produção. Nesse caso seria melhor buscar ajuda do que ficar censurando. Convém lembrar que para buscar ajuda é preciso admitir que esteja com problemas e que faz parte dos problemas. A gente busca solução para o problema do outro somente em caso de problema físico (dor, fratura, etc.) nos outros casos busca-se solução para o seu próprio problema. Se o problema é profissional maior a razão para se incluir.
Em terceiro lugar gostaria que não me julgasse uma pessoa que vive e sempre viveu no melhor momento. Tive os meus percalços, as minhas “dores”, como qualquer ser humano. Passei noites em claro estudando como qualquer estudante que se preza. A única coisa que sempre fiz diferente de alguns é admitir que faço parte do problema e que preciso de orientação.
Fico triste, portanto, porque as críticas que recebo são apenas discursos que não contribuem, que ferem e que parecem ter o objetivo de esconder a incompetência de quem fala.
Que tipo de crítico é você? É crítico na pior acepção do termo?
Voltarei a esse tema.
Campo Grande, 17 de dezembro de 2011.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Realmente, hei de concordar com o professor. Geralmente, as "críticas" que recebemos são apenas discursos proferidos que além de não contribuírem, acabam por camuflar in-"competências" de quem fala. Para mim, ser crítico é ser questionador. Seria contribuir com questões que fazem o professor re-pensar, refletir sobre/no que está dizendo ou fazendo.
ResponderExcluirOlá Viviane
ResponderExcluirObrigado pela excelente contribuição.
Concordo com suas palavaras Prof Sales, pois muitos docentes se dizem críticos, mas acabam somente reclamando da realidade em que estamos sem propostas ou questões para refletir sobre nossa própria prática. Nós docentes somos formadores de opiniões, será que ser crítico é somente discordar? Isto é algo a se refletido sempre...
ResponderExcluirÉ isso mesmo Claudia. Será que reclamar, simplesmente, é o mesmo que criticar? Será que passar o tempo "lambendo" as próprias feridas leva a algum lugar?
ResponderExcluirSerá que não seria melhor fazer novas (e diferentes) tentativas?
Professor Sales,
ResponderExcluirconcordo com sua fala. Devemos ser criticos e aprendermos aceitar as criticas, uma vez que as mesmas quando feitas ao nosso trabalho ou planos para vida pessoal, sejam dirigidas nao a nossas pessoas, mas de forma a Prevenir erros.
Infelizmente recebemos criticas sem fundamentos teoricos e muitas vezes compostas de uma certa preocupacao nao de contribuir, mas de freiar ja que se acomodarmos e nao apresentarmos bom trabalho estaremos aos pseudo criticos, nivelados.
Essa tem sido realmente minha analise em relacao a determinados profissionais que pararam no tempo, ou que estao iniciando, mas que aprenderam que quem menos faz recebem menos criticas, cansa menos e a remuneracao e' igual.
Um abraco
Leonice Salles Sanches
Justificativa:
Os erros de grafia e acentuacao foram decorrentes de minha pouca familiarizacao com o teclado. Estou na Europa e o teclado so quer falar Ingles, Alemao e Frances.
Professor, tive a alegria de ler um texto tão lúcido como este.
ResponderExcluirObrigado pelo incentivo.
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