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domingo, 5 de maio de 2013

O PROFESSOR TEM PROBLEMAS?



O pensador francês Gastón Bachelard afirmou que em sua experiência nunca viu um professor mudar a sua prática. Estou propenso a crer que ele exagerou um pouco. Entendo que dizer que nenhum professor muda a sua prática é uma afirmação muito pesada, mas devo reconhecer que ele tem suas razões para isso. No seu tempo (1884-1962) os professores, marcados pelo tradicionalismo que concentrava o poder nas mãos do professor, que lhes dava toda a razão, não sentiam nenhuma ameaça, não tinham problemas e não tinham razão para mudar. Ninguém muda sem uma razão para isso.
Ainda hoje muitos professores não têm problemas. Quando questionados porque as turmas não se saem muito bem em suas disciplinas respondem: não têm base, não têm interesse, a família não ajuda etc. O problema é somente dos alunos, nunca do professor. No entender desse profissional não há problema didático envolvido, não há problema relacional, não há falta de sentido naquilo que ensina, não há descaso do professor. Nada disso passa pela sua cabeça, logo ele não tem problemas.
Isso faz lembrar o tempo em que não havia delegacia da mulher. O homem chegava em casa "chapado" dava uns pescoções na mulher, umas chicotadas em cada filho e ia dormir tranquilo. No outro dia, enquanto bebia no bar com os amigos, gabava-se de que não tinha problemas em casa. Era verdade o que dizia aos amigos. Sua mulher tinha problemas com ele, seus filhos tinham problemas com ele, mas ele realmente não tinha problemas com eles. Seus problemas somente começaram aparecer quando foi criada a delegacia da mulher. As políticas públicas em defesa da mulher e das crianças criaram problemas para ele, incomodaram-no, e ele começou a mudar de postura.
Um filho drogado cujos pais pagam todas as suas contas e deixam-no pegar o que quiser em casa não tem problemas nem com a droga, nem com os traficantes e nem com família. Ele nunca sairá das drogas porque tudo está dando certo para ele. Não há razões para mudança quando não há incômodo.
Um drogado que a família pressiona, que não paga as suas contas começará ter problemas com o tráfico, pedirá ajuda e aceitará a internação.
Quem não tem problemas não muda, não busca saída.
Na educação básica as Secretarias de Educação e o Conselho Tutelar estão criando problemas para o professor e, por essa razão, o professor da educação básica começou a mudar, pelo menos no discurso. Geralmente as mudanças começam pelo discurso.
E no ensino superior? Nesse nível o professor ainda não foi incomodado. Muitos ainda mantêm o autoritarismo dos tempos antigos e uma didática ultrapassada, entre outros inconvenientes. É preciso incomodá-los? Sem dúvida! Eles estão formando os profissionais.
 O que fazer para incomodá-los?
Alunos organizados e bem esclarecidos poderiam recorrer ao colegiado com mais  frequência; recorrer  ao judiciário por perda de tempo, por aulas mal organizadas, por abusos em relação a provas e notas, etc. Se isso acontecesse haveria mudança.
Professor sem problemas não muda. Ninguém muda sem ser incomodado.
Ninguém deixa a zona de conforto sem ser pressionado.
Nova Andradina, 30 de abril de 2013.
Antonio Sales                  profesales@hotmail.com

3 comentários:

  1. Um Otimo Texto.
    Tendo em vista no que foi dito, concordo com o que foi falado, pois sem problema, tanto na vida real como tambem em trabalhos didáticos, não ha uma solução para que possa ser esclarecida e ajudar o leitor ou o seu amigo. Na questão do professor, vejo que muitos casos ainda estão na forma antiga de se ensinar, mais isso está mudando pois o governo, pelo menos no Mato Grosso do Sul, é bem rigoroso, onde a sua meta é chegar em primeiro lugar na educação o Brasil, mais tem que melhorar ainda e muito. "Tive um professor de matematica no 3 ano do ensino medio, que ele usava um caderno que seu conteudo era o mesmo que usara de muito tempo atrás, então o meu 3 ano pelo o menos no ensino da matematica foi a pior coisa que ja aconteceu, mais se fala-se ele ficava bravo, pior disso ele era concursado e ninguem poderia tira-lo de lá". Espero que quando a quetão e mudança encomodar o professor, ele perceba que isso é o melhor a ser feito.

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    1. Obrigado amigo pela participação.
      A sua história relativa ao terceiro ano ainda se repete. Tem professor que nunca mudou de livro em 20 anos ou mais de trabalho. Sabe todos os exercícios de memória e os alunos pensam e ele é inteligente.

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  2. Professor Antonio Sales, comungo com seus pensamentos, não existe mudanças sem antes haver incomodo, há uma grande necessidade de revermos nossos métodos de ensino, não só na educação básica, mas em um todo.
    A educação superior, é a chave para abrir esse debate, esta nas mãos dos universitários começar a colocar pedra nos sapatos dos mestres e doutores, para haver incomodo mas não um incômodo abusivo, mas de reflexão de sua pratica pedagógica, dessa forma acredito que haverá uma mudança significativa na educação brasileira.

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