Nós, do gênero masculino,
temos dificuldades para entender os sentimentos de uma mãe. Nunca saberemos o
que significa ser mãe, mas podemos imaginar como temos contribuído para que a
sua vida seja melhor ou pior, para que a maternidade tenha mais sentido ou menos
sentido.
Neste texto tento
conjecturar como tem sido a experiência de ser mãe em diversos momentos da
história. Tomo por base a história sagrada do cristianismo supondo que muitos,
mesmo não cristãos, tenham alguma informação
sobre ela.
Buscando na antiguidade
encontro nomes como Sara (esposa de Abraão), Rebeca (esposa de Isaque filho de
Abraão), Raquel (esposa de Jacó neto de Abraão) e Ana (conhecida por ser a mãe
do profeta Samuel). O que há em comum entre essas mulheres é que foram estéreis
a maior parte da vida conjugal. Todas elas em algum momento da vida se
angustiaram com essa situação. Todas deixaram escapar de alguma forma algum
lamento. Lamentos explícitos ou em forma de exigência para que o marido as fecundasse
ou fecundasse alguma escrava para que elas adotassem o filho.
É possível imaginar as dores que sentiam uma
época em que ser mãe era a principal (ou talvez a única) função da mulher.
A fêmea que não procriava
era inútil. Essa era a lição que a natureza lhes transmitia. Ao verem a procriação
sendo valorizada sentiam mais intensamente a “síndrome do útero vazio”. O sentido da existência lhes escapava e a
angústia que sentiam pela esterilidade é difícil de avaliar. Alguns maridos sofreram
com elas (Abraão) outros se impacientaram (Isaque e Jacó) e alguns, como Elcana, não as entenderam. A “síndrome do útero vazio”
trazia-lhes desespero e desejo de morte. A humanidade lhes foi ingrata ao
compara-las com as demais fêmeas. Extrair lições práticas da natureza nem
sempre faz bem à vida, nem sempre é
sábio.
Para completar a sua
angústia, a ausência de filhos era tomada como sinônimo de maldição divina ou
capricho dos deuses. Não tenho dúvidas de que o mundo já foi pior para as mães.
Viajando um pouco mais
no tempo procuro imaginar o que era ser mãe nos dias Jesus.
Aliás, os homens nunca
valorizam o produto do ventre feminino. Cobrava-lhes produção, mas não valorizavam
os filhos. Tratava-os com grosseria. Impacientavam-se com eles e, muitas vezes,
culpavam a mães pela inquietação dos filhos e pela não “moldagem” deles ao era
esperado pelo pai.
No tempo de Jesus algumas mães tiveram o
privilégio de encontrar alguém que valorizou o fruto do seu útero. Consta nos
evangelhos que Jesus certo dia, ao ser rodeado por mães, tomou as crianças sem seus braços e as
abençoou.
Talvez isso tenha acontecido
uma única vez, mas o cronista registrou como um dos feitos importantes de Jesus.
Talvez ele tenha pensado em enaltecer o seu Mestre, mas eu penso que com esse
registro ele enalteceu as mães.
Enalteceu as mães porque trouxe ao mundo uma nova visão sobre maternidade, a
visão de que o fruto do ventre de uma mulher é um ser humano e deve ser
valorizado, respeitado. Cada sorriso que damos a uma criança valorizamos a mãe
que a gerou. Cada afago, cada elogio, cada oportunidade que damos a uma criança
é uma apologia à maternidade. Afagar uma criança é como acariciar a mãe que a
gerou.
Valorizar um filho,
promover legitimamente um filho é o melhor elogio que se pode oferecer a uma mãe.
Até recentemente, pela
alta mortalidade infantil, era como se toda mulher tivesse um punhal cravado no
útero. A “maldição” da morte lhes acompanhava e o pesadelo do útero esvaziado
se fazia sempre presente.
Em nossos dias as perspectivas
são outras. Mulheres não precisam ser
mães para serem respeitadas, e as que são mães recebem (pelo menos um pouco) do
tratamento que merecem. As políticas públicas em favor das mães ainda precisam
melhorar, mas a sua presença mostra que a mãe começou a viver em outro tempo.
Apesar dos avanços
científicos e sociais que trouxeram uma nova luz, para toda mulher que deseja ser
mãe, há uma lamentável sombra no seu caminho: as drogas. As drogas ceifam-lhes
o prazer da maternidade quando a mãe já deveria começar a colher os bons frutos
da sua fertilidade. Eis a sombra que nosso século trouxe às mães.
Creio ser desnecessário
deixar aqui um apelo para que nos unamos no combate a esse flagelo social que
faz sangrar o coração de muita mulher que sonhou em ter um útero benfazejo.
Mãe, só você pode entender
o mistério que circunda a sua vida.
Parabéns pelo seu dia.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 11 de
maio de 2013.
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