Escrevi sobre isso
recentemente. Naquele texto focalizei a preocupação da escola com a ementa e não
com o aprendizado do aluno. Como gosto de metáforas comparo esse procedimento com
o daquela mãe que vendo o filho desnutrido ao invés de procurar um especialista
em saúde infantil insiste em forçar a criança a comer tudo que ela coloca no
prato. Não se preocupa nem mesmo em melhorar o sabor ou mudar os componentes. É
a velha e carunchada crença de que comer bastante (não importa a qualidade) produz
saúde. Assim é a escola. Gestores e professores têm uma mentalidade velha e
carunchada sobre os problemas de aprendizagem.
Hoje quero falar de
outra contradição presente no contexto escolar.
Fui orientador de
Estágio Supervisionado em cursos de Licenciatura em Matemática por muitos anos.
Sempre entendi que o acadêmico deve levar para escola uma proposta de trabalho
diferente da que viveu lá como aluno. O que está sendo feito todo mundo já sabe.
Os resultados também já são conhecidos e o grau de insatisfação de todos com
esse resultado está na mídia.
Minha proposta era de
que o acadêmico deveria ir à escola uns dias para cumprir o estágio de observação.
Mas combinava com eles que não deveriam ir com a finalidade de observar o professor,
mas de serem conhecidos pela escola e conquistarem a confiança de todos.
Portanto, deveriam ser corteses, prestativos, circularem pelos corredores, conversarem
com os alunos, professores e gestores e, a partir dessa amizade inicial, propor
o desenvolvimento de um projeto de ensino no contra turno ou, se o professor visse
conveniência, no horário de aula do professor.
Dizia-lhes que para
fazer o que todos fazem não precisavam fazer estágio. Todos sabem fazer o que
todos fazem e todos já sabem os resultados dessa prática. Precisávamos testar
algo novo, levar uma proposta nova para a escola ainda que no final tivéssemos
que admitir que também não funcionara. Se não funcionasse pelos menos teríamos
tentado algo diferente.
As duplas que
conseguiam voltavam do estágio com uma nova visão. Falavam abertamente do que dera
certo e do que dera errado. Discutíamos os problemas encontrados sem sentimento
de culpa ou de fracasso.
Mas é exatamente nesse
ponto que encontro outra contradição na escola. Em algumas delas os acadêmicos não
encontravam espaço para tentar inovar, para uma proposta diferenciada de
trabalho. Precisava o professor-orientador ir conversar com os gestores e
coordenadores da escola e gastar muita saliva. Depois desse esforço saía da
audiência com a certeza de que a proposta não iria funcionar embora tivesse
obtido o sim da gestão. Sabia que os acadêmicos não teriam apoio, mas
respeitava a escolha deles em ficar naquela escola.
Em uma das últimas
escolas que alguns acadêmicos foram estagiar eles vieram pedir socorro. Haviam
combinado em desenvolver o projeto e feitos todos os preparativos para isso e
agora o coordenador os chamara e lhes dissera que deveriam dar aulas de reforço
para os alunos que tinham tirado nota baixa na prova de um certo professor.
Deveriam ir no contra turno ensinar o que o professor não dera conta de ensinar
no horário regular de aula.
Fomos negociar com o
coordenador. De início ouvimos que estavam com problemas por causa do baixo rendimento
dos alunos e a universidade precisava socorrê-los. Argumentamos que se o método
usado pelo professor não estava dando certo, repeti-lo seria improdutivo. Éramos
contra a “absorção” do conhecimento por osmose, isto é, apenas pelo contato
prolongado com ele. Queríamos preparar os nossos acadêmicos para terem uma
visão diferente, serem ousados, inovarem. Não queríamos que eles simplesmente
se encaixassem no velho esquema que já deu provas de ser ineficiente. Eles
iriam ensinar matemática sim, mas aquela que eles haviam preparado e do como haviam
planejado.
Eles tinham a nossa
permissão para errar, mas não tinham permissão para repetir os erros cometidos
pelos outros.
Ele insistiu que precisava
resolver os problemas das notas dos alunos deles e então fomos diretos: não estamos
aqui para ensinar o vosso aluno, mas para ensinar o nosso aluno. Não estamos
para resolver o vosso problema imediato, estamos aqui para preparar o nosso
aluno para ser um profissional que não faça o mesmo que está feito e cujos
resultados vocês mesmos deploram.
Essa é a contradição: a
escola que deveria ser um espaço de transformação é o espaço da resistência à
inovação. A instituição que deveria ser a mola propulsora de novas ideias é exatamente
o sepulcro delas. Aqueles que estão insatisfeitos com os resultados são os que insistem
em repetir o processo.
Novamente uma metáfora:
um mesmo padeiro, com a mesma farinha e a mesma receita só consegue obter o
mesmo bolo. Se quisermos mudar o bolo, precisamos mudar pelo menos a receita.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 10 de
maio de 2013.
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