Em nosso
trabalho com os professores temos sentido a presença de uma dose não muito pequena de angústia. A
busca pela forma correta de ensinar é uma constante. Há razoes para isso. Sendo cobrados por
resultados, em termos de aprendizagem dos alunos, é natural que os professores
busquem pela “poção magica” que satisfaça a exigência do sistema e diminua a
sua dor.
As
pessoas “normais” não gostam de sofrer todo tempo e o tempo todo.
Antes havia um modelo pedagógico, hoje chamado de "tradicional", que funcionava, isto é, satisfazia o sistema. Por esse método só aprendia quem aprendia, isto é, quem aprenderia de qualquer jeito, por qualquer modelo de aula. Mas isso era suficiente para satisfazer a sociedade. Ela não esperava mais do que isso mesmo. Se a escola atendesse quem queria aprender e tinha facilidade para isso já estava cumprindo plenamente o seu papel. O sistema não fiscalizava para saber quantos aprendiam, mas para saber se os que aprendiam estavam bem. Os outros, os que evadiam, não eram ouvidos, não eram objetos de preocupação.
Antes havia um modelo pedagógico, hoje chamado de "tradicional", que funcionava, isto é, satisfazia o sistema. Por esse método só aprendia quem aprendia, isto é, quem aprenderia de qualquer jeito, por qualquer modelo de aula. Mas isso era suficiente para satisfazer a sociedade. Ela não esperava mais do que isso mesmo. Se a escola atendesse quem queria aprender e tinha facilidade para isso já estava cumprindo plenamente o seu papel. O sistema não fiscalizava para saber quantos aprendiam, mas para saber se os que aprendiam estavam bem. Os outros, os que evadiam, não eram ouvidos, não eram objetos de preocupação.
Hoje as
exigências são outras. Todos precisam aprender, todos precisam permanecer na
escola. A escola não é mais para quem quer; é para todos. No contexto atual o
modelo "tradicional" não dá conta mais e as propostas modernas ainda não
se mostraram eficientes para
substitui-lo.
O professor
quer receitas e não há receitas ainda. Havia receita no passado porque a
“farinha”, como disse um colega certa vez, era homogênea (descartavam-se as
outras). Hoje com “farinha” heterogênea cada “padeiro” deve criar a sua receita
e cuidar para agradar o “cliente”.
Tem
professor que se fosse padeiro ficaria desempregado porque não agrada cliente
nenhum. Há muitos que são excelentes “padeiros”, mas o sistema ainda não
encontrou uma forma eficaz de valorizá-los.
Chevallard
pressupõe que seja possível construir uma praxeologia, uma forma de bem fazer a
educação. Praxeologia é a forma racional de se fazer algo; a forma mais produtiva, mais eficaz. Mas são estudos
recentes e ainda não se descobriu essa praxeologia, embora o próprio autor
admita que não exista a praxeologia única, isto é, uma forma de bem ensinar
tudo a todos. Cada saber, representado pelas disciplinas escolares, tem o seu modo próprio de ser estudado.
O professor já discursa contra o modelo
tradicional e mostra certo desconforto quando é chamado de tradicional, mas
isso evidencia que ele ainda não se desvinculou do antigo modelo. Essa sua atitude arredia quanto ao modelo tradicional,
mostra que esse modelo não está morto, que ele ainda incomoda, que
ainda atrai. O professor é saudosista e incoerente. Ele deseja que os seus
alunos sejam como eram os alunos do passado, mas ele não quer mais ser o
professor do passado, o empregado do passado, a esposa do passado, etc.
Tournier
(2002) afirma que a neurose surge quando se reprime algo que não foi eliminado,
quando se deseja ser o que não consegue ser, quando se luta contra algo que
ainda nos atrai. O professor quer negar o tradicionalismo mas não conseguiu se
livrar dele ainda.
Se nenhum
modelo resolve todos os problemas nenhum deles deve ser descartado. Tudo
depende da clientela, da capacidade do profissional, da formação que teve, do
seu compromisso profissional, da gestão escolar, enfim, de tanta coisa. O que
parece certo é que o modelo tradicional não atende as expectativas da sociedade
atual que por não conhecer outro modelo ainda insiste que deve seguir o antigo.
As mudanças são lentas e exigem um certo grau de sacrifício de todas as partes
envolvidas.
Em uma
pesquisa realizada por nós em Campo Grande, em 2002, e patrocinada pela
UNIDERP, os professores disseram que se sentiam perdidos diante de
tantas oficinas que lhe eram oferecidas e cada uma defendendo uma proposta
diferente de trabalho. Tinham desistido de mudar porque já não sabiam mais o “caminho” a seguir. Estavam em uma
“bifurcação” múltipla (multifurcação) da estrada pedagógica e cada uma
prometendo os resultados desejados.
Foi numa época em que
explodiram os cursos de “capacitação continuada” com verbas do PDE (Programa de
Desenvolvimento Escolar). Foram bombardeados pelas propostas alternativas e
nenhuma funcionava porque ele não dominava nenhuma.
Esperamos que o saldo
tenha sido positivo no sentido de que o professor, ao tomar conhecimento das
múltiplas possibilidades, tenha começado uma trajetória em busca de uma mudança
consciente. Fizeram escolhas diferentes, mas começaram uma nova jornada. Pagam
caro por isso, mas estão legando ao futuro o exemplo de profissionalização.
Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 24 de
março de 2013.
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