As condições de
trabalho de um profissional interferem diretamente na sua produtividade e no
seu bem-estar.
A Revista Atuação, da
Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul, em sua Edição nº
4, de agosto de 2012, na seção sobre saúde discorre sobre o tema “quando o
corpo sente”. Ao lado das doenças provocadas pelo uso do giz, uso excessivo da
voz, sobrecarga de trabalho apresenta um
gráfico sobre as “situações que causam incômodo ou sofrimento no trabalho”
conforme uma pesquisa de 2010 conduzida pela
APEOESP.
Em primeiro lugar no
ranking está a “dificuldade de aprendizagem” dos alunos. Para 75,5% dos
professores das Redes Estadual e Municipal de Campo Grande, MS, este é o fator
que mais os faz sofrer.
O fato de o professor
sentir-se incomodado com o baixo rendimento do aluno é um fator positivo. Muito
triste seria se o profissional não estivesse preocupado com o aprendizado do
aluno, ou se sentisse prazer na miséria intelectual do aluno. O fato de o baixo
rendimento escolar o incomodar traz um pouco de esperança.
Por que não traz muita
esperança? O que há de negativo nessa informação? O fato dela ser tão antiga
quanto a profissão e ninguém ter encontrado solução ainda faz diminuir a margem
de esperança.
Muitas propostas foram
feitas, mas parece que nenhuma foi
operacionalizada ou entendida em sua
plenitude. O que causa desconforto em quem pensa no problema é o fato de não estar dando certo e se continuar fazendo como
antes. Alguns até zombam das novas
tentativas porque elas não trazem resultados imediatos. Recai-se naquele adágio
popular: “o sujo zomba do mal lavado”.
O “mal lavado”, que
neste é caso aquele que tentou algo diferente e não deu certo, tem o mérito de
ter tentado. Devemos parabeniza-lo pela iniciativa e instamos para que não
desista de investir em novas alternativas, apesar da zomba de alguns colegas de
do pouco resultado aparente.
Há quem zombe das
tentativas dizendo que “antigamente” os alunos aprendiam pelo método que usam e por isso não vão
mudar. Com uma mentalidade tacanha dessas não dá para mesmo esperar melhora na
educação. Ignoram esses mentecaptos que antigamente a escola não era para
todos, era somente para os que queriam estudar, isto é, para alguns.
Com o nível de raciocínio
usado por esses profissionais alienados é possível propor absurdos tais como:
1.
Que se volte a realizar cirurgias sem
anestesia porque antigamente alguns sobreviveram a uma cirurgia sem anestesia;
2.
Que se tratem as infecções com ventosas
porque no passado alguns sobreviveram com esse tratamento e sem antibióticos.
São pessoas como essas
que atravancam o processo de experimentação de novos métodos. Algumas são
professores e outras são gestores de grande influência e prestígio.
No início da década de
1990 fomos encarregados de reformular o projeto pedagógico de um curso de
ensino médio profissionalizante sem saber que logo mais seria extinto com base na nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação que estava por chegar. Preocupados em proporcionar ao
estudante uma ementa condizente com o que ele realmente utilizaria no exercício
da profissão fomos, pessoalmente, consultar o conselho da classe, à qual ele pertenceria,
sobre quais seriam os conteúdos mais apropriados. Fomos recebidos por um
conselheiro que num gesto de descaso foi dizendo: “professor lasque logaritmo e
trigonometria nesse pessoal; esses alunos têm que passar pelo que nós passamos.
Não poupe eles de nada que é difícil”.
Quem não estava lá para
discutir o que era fácil ou difícil, mas o que seria útil para o profissional,
saiu com um retrato da escola que muitos alunos têm.
Mas, se os alunos não estão
aprendendo, e isso está incomodando o professor, porque esse professor insiste
me continuar utilizando a mesma pedagogia de antigamente? Por que a mesma
didática se está provado que não funciona? Se ela, como afirmou Chevallard,
produz irresponsabilidade no aluno, por que continua sendo a forma principal de
trabalho?
Algumas possíveis
razões:
Muita coisa do que
fazemos é mera repetição do que vivemos e o nosso professor é formado por uma
universidade anacrônica. Há muito
anacronismo no professor universitário lotado em curso de licenciatura. O
professor formado por eles dificilmente vai mudar alguma coisa. A universidade,
que deveria ser a vanguarda, no que diz respeito à formação de professores está
na retaguarda. É o que temos observado, especialmente, nos cursos de exatas.
Esse anacronismo é tão tradicional quanto o resultado devastador que atormenta
o professor.
Se a universidade não
provoca o debate, não incomoda o acadêmico como podemos esperar que este,
depois de formado, incomode a sociedade ou se sinta incomodado?
O anacronismo provoca
falta de criatividade.
Uma segunda razão seria
o comodismo. É mais fácil repetir do que inovar. Há certo bem-estar em
permanecer fiel à tradição. Ela nos ancora.
Um terceiro fator é a
própria gestão escolar. Há gestores que estão empenhados em administrar o
prédio e o nome da escola; o aspecto pedagógico da escola é adendo na
perspectiva dele. Tudo fazem para esconder as mazelas que se ocultam entre as
paredes, mas não se preocupam em dialogar com os pais, com os professores, com
alguns professores universitários que estão buscando a vanguarda e com os
alunos. Não dialogam com a pedagogia e oferecem obstáculo à inovação. Talvez
ajam dessa forma pelo mesmo motivo que os professores continuam repetindo o
modelo que não funciona. Na gestão também é mais fácil sentir-se ancorado pela
tradição e os gestores são produtos da mesma universidade que forma os
professores.
Esconder mazelas ainda
é mais fácil do que inovar ou admitir que o projeto falhou.
É dessa forma que
caminha a educação brasileira em muitas escolas e universidades: escondendo
mazelas, buscando culpados, cobrando resultados de um modelo falido, avaliando
o já tantas vezes avaliado, estranhando os resultados tantas vezes encontrados,
forçando o profissional a produzir “numa terra árida” e já muitas vezes
cultivada sem sucesso.
Um ambiente assim pode
ser saudável? É possível ser feliz em um contexto tão perverso?
A pergunta mais
importante, porém, é esta: é possível fazer algo diferente?
A resposta é surpreendente:
é possível. Já existe modelo alternativo dando resultados.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 1º de
agosto de 2013.
Como já nos dizia Paulo Freire: "Educar é difícil, mas é possível".
ResponderExcluirEntão vamos pensar em mudanças na abordagem dos conteúdos matemáticos!
Isso mesmo colega Rosalva. Sem desanimar vamos lutando pela melhoria desse processo de formação de professores que, por vezes, nos parece tão adverso.
ResponderExcluirObrigado pela contribuição