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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

AS CONDIÇÕES DE TRABALHO DO PROFESSOR



As condições de trabalho de um profissional interferem diretamente na sua produtividade e no seu bem-estar.
A Revista Atuação, da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul, em sua Edição nº 4, de agosto de 2012, na seção sobre saúde discorre sobre o tema “quando o corpo sente”. Ao lado das doenças provocadas pelo uso do giz, uso excessivo da voz, sobrecarga de trabalho apresenta  um gráfico sobre as “situações que causam incômodo ou sofrimento no trabalho” conforme uma pesquisa de 2010 conduzida pela  APEOESP.
Em primeiro lugar no ranking está a “dificuldade de aprendizagem” dos alunos. Para 75,5% dos professores das Redes Estadual e Municipal de Campo Grande, MS, este é o fator que mais os faz sofrer.
O fato de o professor sentir-se incomodado com o baixo rendimento do aluno é um fator positivo. Muito triste seria se o profissional não estivesse preocupado com o aprendizado do aluno, ou se sentisse prazer na miséria intelectual do aluno. O fato de o baixo rendimento escolar o incomodar traz um pouco de esperança.
Por que não traz muita esperança? O que há de negativo nessa informação? O fato dela ser tão antiga quanto a profissão e ninguém ter encontrado solução ainda faz diminuir a margem de esperança.
Muitas propostas foram feitas, mas parece que nenhuma  foi operacionalizada  ou entendida em sua plenitude. O que causa desconforto em quem pensa no problema é o fato de não  estar dando certo e se continuar fazendo como antes.  Alguns até zombam das novas tentativas porque elas não trazem resultados imediatos. Recai-se naquele adágio popular: “o sujo zomba do mal lavado”.
O “mal lavado”, que neste é caso aquele que tentou algo diferente e não deu certo, tem o mérito de ter tentado. Devemos parabeniza-lo pela iniciativa e instamos para que não desista de investir em novas alternativas, apesar da zomba de alguns colegas de do pouco resultado aparente.
Há quem zombe das tentativas dizendo que “antigamente” os alunos aprendiam  pelo método que usam e por isso não vão mudar. Com uma mentalidade tacanha dessas não dá para mesmo esperar melhora na educação. Ignoram esses mentecaptos que antigamente a escola não era para todos, era somente para os que queriam estudar, isto é, para alguns.
Com o nível de raciocínio usado por esses profissionais alienados é possível propor absurdos tais como:
1.                      Que se volte a realizar cirurgias sem anestesia porque antigamente alguns sobreviveram a uma cirurgia sem anestesia;
2.                      Que se tratem as infecções com ventosas porque no passado alguns sobreviveram com esse tratamento e sem antibióticos.
São pessoas como essas que atravancam o processo de experimentação de novos métodos. Algumas são professores e outras são gestores de grande influência e prestígio.
No início da década de 1990 fomos encarregados de reformular o projeto pedagógico de um curso de ensino médio profissionalizante sem saber que  logo mais seria  extinto com base na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação que estava por chegar. Preocupados em proporcionar ao estudante uma ementa condizente com o que ele realmente utilizaria no exercício da profissão fomos, pessoalmente, consultar o conselho da classe, à qual ele pertenceria, sobre quais seriam os conteúdos mais apropriados. Fomos recebidos por um conselheiro que num gesto de descaso foi dizendo: “professor lasque logaritmo e trigonometria nesse pessoal; esses alunos têm que passar pelo que nós passamos. Não poupe eles de nada que é difícil”.
Quem não estava lá para discutir o que era fácil ou difícil, mas o que seria útil para o profissional, saiu com um retrato da escola que muitos alunos têm.
Mas, se os alunos não estão aprendendo, e isso está incomodando o professor, porque esse professor insiste me continuar utilizando a mesma pedagogia de antigamente? Por que a mesma didática se está provado que não funciona? Se ela, como afirmou Chevallard, produz irresponsabilidade no aluno, por que continua sendo a forma principal de trabalho?
Algumas possíveis razões:
Muita coisa do que fazemos é mera repetição do que vivemos e o nosso professor é formado por uma universidade anacrônica.  Há muito anacronismo no professor universitário lotado em curso de licenciatura. O professor formado por eles dificilmente vai mudar alguma coisa. A universidade, que deveria ser a vanguarda, no que diz respeito à formação de professores está na retaguarda. É o que temos observado, especialmente, nos cursos de exatas. Esse anacronismo é tão tradicional quanto o resultado devastador que atormenta o professor.
Se a universidade não provoca o debate, não incomoda o acadêmico como podemos esperar que este, depois de formado, incomode a sociedade ou se sinta incomodado?
O anacronismo provoca falta de criatividade.
Uma segunda razão seria o comodismo. É mais fácil repetir do que inovar. Há certo bem-estar em permanecer fiel à tradição. Ela nos ancora.
Um terceiro fator é a própria gestão escolar. Há gestores que estão empenhados em administrar o prédio e o nome da escola; o aspecto pedagógico da escola é adendo na perspectiva dele. Tudo fazem para esconder as mazelas que se ocultam entre as paredes, mas não se preocupam em dialogar com os pais, com os professores, com alguns professores universitários que estão buscando a vanguarda e com os alunos. Não dialogam com a pedagogia e oferecem obstáculo à inovação. Talvez ajam dessa forma pelo mesmo motivo que os professores continuam repetindo o modelo que não funciona. Na gestão também é mais fácil sentir-se ancorado pela tradição e os gestores são produtos da mesma universidade que forma os professores.
Esconder mazelas ainda é mais fácil do que inovar ou admitir que o projeto falhou.
É dessa forma que caminha a educação brasileira em muitas escolas e universidades: escondendo mazelas, buscando culpados, cobrando resultados de um modelo falido, avaliando o já tantas vezes avaliado, estranhando os resultados tantas vezes encontrados, forçando o profissional a produzir “numa terra árida” e já muitas vezes cultivada sem sucesso.
Um ambiente assim pode ser saudável? É possível ser feliz em um contexto tão perverso?
A pergunta mais importante, porém, é esta: é possível fazer algo diferente?
A resposta é surpreendente: é possível. Já existe modelo alternativo dando resultados.
Antonio Sales    profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 1º de agosto de 2013.

2 comentários:

  1. Como já nos dizia Paulo Freire: "Educar é difícil, mas é possível".
    Então vamos pensar em mudanças na abordagem dos conteúdos matemáticos!

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  2. Isso mesmo colega Rosalva. Sem desanimar vamos lutando pela melhoria desse processo de formação de professores que, por vezes, nos parece tão adverso.
    Obrigado pela contribuição

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