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domingo, 11 de agosto de 2013

QUE TIPO DE ALUNO OU PROFESSOR É VOCÊ?



Acabo der um texto de Stephen Kanitz*. Nele o autor afirma que nós, brasileiros, “preferimos ser obedientes e omissos do que cidadãos participantes da nossa sociedade”.
Não sei se concordo plenamente com ele, mas sei que tenho presenciado tal cena com muita frequência. Penso que com mais frequência do seria o ideal, na minha perspectiva.
 Não me coloco como exemplo,  mas tenho me esforçado para não esperar ordens. Quando alguém me alerta que falta algo procuro imediatamente analisar a lógica da observação feita e, tendo-a encontrado, procuro a parceria de quem fez para corrigir erro (se for erro), implementar ação (se for esse o caso) ou discutir uma proposta adequada. Detesto ser escravo, isto é, só fazer o que sou obrigado. Detesto admitir que outro mande em mim, que  ele me controla. Prefiro agir em liberdade.
No entanto, parece que Kanitz não está muito longe de ter razão quando afirma que “preferimos obedecer e poder ‘tirar o corpo fora’ quando tudo der errado do que assumir responsabilidade pelos nossos atos. Preferimos culpar nossos chefes pelo fracasso das nossas instituições tão evidentes, a assumir que todos somos solidários no fracasso. Preferimos obedecer a ter liberdade de ação”.
Tenho percebido que muitos colegas, principalmente da educação básica, reclamam o tempo todo das ordens recebidas, da falta de liberdade para agir, do planejamento “engessado”, e por aí a fora. Quando sugerimos uma ação alternativa, como forma de conquistar a confiança do gestor e adquirir mais liberdade, reagem negativamente dizendo que não vale a pena tentar, que não há espaço.  Vez ou outra encontramos algum professor que diz: “apesar do ‘engessamento’ ainda é possível fazer  alguma coisa diferente, ainda sobra algum espaço e eu tenho conseguido”. São ilhas nesse imenso oceano ou minha visão está enviesada?
Com relação aos alunos, a situação não parece ser mais promissora. Reclamam dos professores que os sobrecarregam com listas de exercícios e trabalhos, mas não estudam as disciplinas daqueles professores que procuram estimular a autonomia deles. Culpam o estilo de algum professor de dar excesso de trabalho, mas ficam felizes com os pontos que obtém sob essa pressão. Encontram, nessa proposta de trabalho de alguns professores, a desculpa pelo fracasso na maioria das disciplinas e isso os conforta.
Essa é uma situação que me parece estranha, que me indigna por vezes. Tenho dificuldade para entender como um ser humano e submete a uma situação dessas. Prefiro a máxima proferida por Jesus: “se alguém de obrigar andar uma milha vai com ele duas”. A primeira é a milha do dever, a segunda é a da espontaneidade, portanto, da sua liberdade. Se não podes escapar de uma situação vexatória de ser forçado a caminhar uma milha, procure caminhar outra milha para mostrar a sua determinação. A primeira milha é o trajeto do escravo, a segunda é sua escolha, portanto, a da liberdade.
O conselho de Jesus, segundo alguns estudiosos, se refere a uma prática comum nos tempo do Império Romano. Cada soldado romano, em serviço, podia recrutar qualquer homem para ajuda-lo a transportar a sua carga por uma milha e isso incomodava os judeus que odiavam os romanos. Consultado sobre o que pensava sobre isso Jesus deu o conselho que aparece em destaque.
Em outras palavras: conquiste a sua liberdade, mostre que está disposto a pagar o preço de ser livre. Quem não consegue a plena liberdade exterior deve, pelo menos, conseguir a liberdade interior. Quem não pode fugir do dever, cumpra-o com determinação. Quem não pode escolher o horário de trabalho, prepare-se para produzir o máximo no horário que lhe foi determinado.
Se não podemos determinar o nosso salário, podemos nos tornar dignos dele procurando determinar a nossa prática pautando-a pela ética, liberdade e uma proposta mais progressista. Não podendo ser um continente sejamos uma ilha, porém, uma ilha que marque presença.
Concluo evocando Kanitz outra vez: “Administradores que delegam poder, terceirizam funções, empoderam funcionários, orientam funcionários e não gritam ordens a empregados, estão na contramão da História do Brasil.
Queremos mandões, seja da direita militar ou da esquerda intervencionista do que uma empresa livre e democrática onde todos os stakeholders opinam e assumem as suas respectivas responsabilidades”.
Antonio  Sales       profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 11 de agosto de 2013.

*Administrador pela Harvard. Ex-articulista da VEJA e professor aposentado da USP.  Escreve “Artigos para se pensar” no  http://blog.kanitz.com.br.
O texto citado é: Por que Preferimos Gestores a Administradores? e o acesso foi em 11/08/2013

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