Embora seja possível
discordar do Ioschpe1 em muitos momentos, tenho percebido que ele
faz um bom retrato da educação brasileira. As propostas dele é que, por vezes,
são questionáveis.
Seu último texto
publicado na edição 2331 da “Veja” ele apela para que a presidente “Dilma, não
desperdice nossos recursos nesse sistema educacional”. Ele prova com dados
estatísticos que países com bem menos investimentos proporcionais ao que está
sendo proposto no Brasil obtém melhores resultados. A China, por exemplo,
investe apenas 1,9% do PIB e a Coreia do Sul, 3,8%. O País que mais investe é a
Finlândia com 5,7%. Todos esses países têm educação de qualidade com menos de
10% do PIB.
Na opinião de Ioschpe
tem-se que investir nas universidades para que sejam menos teóricas e mais
práticas, para que preparem os acadêmicos para a docência. No Brasil, nos cursos de bacharelado, dão-se
preferência a pessoas com formação na área do curso e que tenham pós-graduação
na disciplina que vão ensinar. Na licenciatura preferem-se bacharéis e não se
exige pós-graduação em educação para ensinar. Observa-se, nesse caso, o absurdo
de por alguém que não entende de educação, que nunca foram professores, para
preparar professores.
A opinião prevalecente
é que basta dominar determinado saber para ser bom professor. A experiência
prova que o conhecimento não é suficiente para humanizar o homem, para torná-lo
bom no trato com seres humanos que é a principal função do professor. O “holocausto”
parece ser uma prova irrefutável disso, pois, as câmaras de gás foram projetadas
por engenheiros de competência técnica comprovada. As experiências macabras com
seres humanos, coordenadas pelo médico alemão Josef Mengele3 (o “Anjo
da Morte”), nesse mesmo contexto não foram feitas pessoas sem competência técnica.
Kidder2 afirma que a explosão da usina nuclear de Chernobil, que
ceifou centenas de vida e provocou um desastre ecológico de grandes proporções,
foi provocada por dois engenheiros de alta competência técnica. O pior é que,
segundo o relatório técnico do governo russo, ela foi provocada.
Escrevi no texto
anterior que a universidade brasileira é anacrônica. Como sou da área
educacional estava falando da minha experiência, logo dos cursos de
licenciatura. Isso significa que concordo com Ioschpe.
Acrescento que
poderíamos ter menos avaliação e investir mais em qualidade. Estamos investindo
em avaliar o já muitas vezes avaliado, é hora de cobrar inovação, de incentivar
projetos inovadores e punir quem não se propuser a mudar. Proporcionar 1/3 da
carga horária para o professor, mas exigir que ele tenha um plano de estudos e
que a universidade pública atenda esse professor. Além disso, deve-se permitir
que somente professores universitários com projetos inovadores na área de
educação deem assessoria ao professor da
educação básica. Repetir o que já está feito, sem resultados, não vale.
Concordo com Ioschpe
também quando ele diz que o sistema está mal. Penso que a escola brasileira está
enferma e está enfermando professores e alunos.
Muitos professores que
chegam à escola entusiasmados, com vontade de provocar alguma mudança, dentro de pouco tempo então “sem
vida”. A Síndrome de Burnout chega muito cedo para muitos professores. A falta de apoio da gestão, o excesso de
burocracia (essa forma de exigir produção tem sido um tiro pela culatra), a
sala de professores onde só se fala mal de aluno, os professore mais velhos com
a “pressão arterial” quase nula, os alunos, a maioria, indo à escola por obrigação,
e a falta de autonomia intelectual de muitos professores, são fatores que matam
os sonhos dos poucos sonhadores. Eles passam a trabalhar pelo salário e trabalhar
pelo salário só vale a pena se ele for muito bom. O professor adoece porque a
escola o enferma e depois ele enferma o aluno e os outros professores que
chegarem.
A educação ganharia
muito mais se esses professores enfermos fossem encostados ou readaptados e
fosse investido em outros com mais vida. Os gestores que não estivessem
dispostos a se atualizarem teriam que passar pelo mesmo processo dos professores.
Voltando à
universidade. Os disparates que ocorrem ali não são imagináveis pelo público.
Quando vamos a um médico
ele antes de nos medicar quer saber se já estamos tomando algum outro
medicamento. Esse profissional aprendeu que nem sempre o medicamento que ele
vai receitar é compatível com outro que o paciente esteja tomando por orientação
e outro profissional.
Na universidade esse
fator é irrelevante. Quando vou marcar uma prova não me interessa saber se o
aluno já tem outra prova marcada para o mesmo dia. Passo-lhe um trabalho de 200
exercícios para entregar na próxima semana sem levar em conta que ele é
trabalhador e tem outras disciplinas para estudar. O professor universitário é
um “tratorador”. Pouco lhe importa as dificuldades (não importa a ordem) do
aluno. Importa-lhe mostrar que tem poder sobre ele, que pode dar ordens. Parece
que, em muitos casos, ele se tornou professor por vingança de não ter
conseguido sobreviver como pesquisador.
A licenciatura,
portanto, não humaniza porque nem sempre é conduzida por humanizados. A escola básica
não humaniza pela mesma razão.
Como se tudo isso não bastasse
está se fazendo o discurso de que a educação é a responsável pela mudança do
Brasil (combate à corrupção, equidade, desenvolvimento, etc.). Temo que ela
mude mesmo o nosso Brasil, mude para pior, para a barbárie. Se ela está doente,
para onde levará o Brasil, se conseguir mudá-lo?
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 04 de
agosto de 2010.
Referências
1 IOSCHPE,
Gustavo. Dilma, não desperdice nossos recursos nesse sistema educacional. Veja, Edição 2331, ano 46, no 30 de 24 de julho de 2013, p.
104-105.
2 KIDDER, Rushworth M. Como
escolher na vida entre o certo e o certo. São Paulo: Gente, 2007.
3 Ver Enciclopédia livre. Wikipédia.
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