Estou com um jornal panfletário
na mão. Foi produzido para isso mesmo: panfletar, tentar sensibilizar a comunidade
com relação à luta de uma classe profissional: os professores universitários (categoria
da qual faço parte).
Um quadro na última
página e grafado com letras gigantes chama a minha atenção. Leio: “Por uma educação
pública de qualidade”.
Penso: pura demagogia.
Em primeiro lugar é preciso
observar que a frase é extremamente imprecisa, polissêmica. Se perguntarmos “o
que é educação de qualidade” alguém sabe responder? Ela está relacionada com a participação
da família na escola e o interesse do aluno? Está relacionada com a didática e
postura profissional do professor? Tem relação com o baixo salário do professor
ou com o aumento da drogadição e agressão dos alunos? É uma referência a uma
escola bem cuidada ou a uma gestão comprometida com o pedagógico e os
relacionamentos? Tem a ver com a segurança nas escolas ou com a ética
profissional?
Se for tudo isso (e
muito mais) será que se espera que todos os fatores sejam atacados de uma única
vez ou há prioridades? Se há prioridade, essa é o salário do professor, a sua
didática, o aprendizado científico do aluno ou a melhoria dos relacionamentos?
Haverá melhoria na
educação pública com essa impunidade que reina no Brasil? Nesse caso, a punição
dos “mensaleiros” seria um passo importante na melhoria da qualidade da educação?
E a eleição de um governante truculento e de legisladores incompetentes ou sem
precedentes recomendáveis teria alguma relação?
Para um sindicato que
só “briga” por salários a frase tem um único significado. Deve ser por isso que
a divulgam sem mais esclarecimentos.
Em segundo lugar é
preciso lembrar o leitor que no Brasil o volume de alunos na Educação Básica é muitas vezes maior do que na Educação Superior. Portanto, uma campanha por “educação
pública de qualidade” deveria ter como foco a Educação Básica. É aqui que está
o segundo grande nó. A Universidade tem dado pouca atenção para a Educação
Básica. Pouquíssimos professores de curso de licenciatura (os que deveriam
lutar por uma “educação e qualidade”) estão interessados em preparar os seus acadêmicos
para serem professores da Educação Básica. A ênfase deles é na pós-graduação,
seduzir os acadêmicos para a “pós”. Raros
são os casos de professores que vão à “base” saber o que a escola necessita
quais os problemas enfrentados, para discutir com os acadêmicos em sala de aula.
Tem muitos que ainda não acordaram que o conhecimento científico é insuficiente
para produzir um bom profissional (ele é um exemplo disso e não se dá conta). O
conhecimento científico é insuficiente para produzir mudanças relacionais e éticas.
Alguém lembrou muito
bem que o “holocausto” foi executado por pessoas com formação científica. Engenheiros
projetaram as câmaras de gás, médicos aproveitaram para fazer experiências com
pessoas, oficiais do Exército comandaram operações contra os que se opunham e oficiais
da Polícia comandaram a execução das sentenças. A relação poderia continuar.
Só para lembrar: a
explosão da usina nuclear de Chernobil foi provocada (segundo notas divulgadas)
por dois engenheiros de alta competência técnica que resolveram experimentar
qual a temperatura máxima suportada por
um reator.
Se o professor de
licenciatura pouco está “ligando” para a melhoria da qualidade da educação pública
por onde o sindicato da categoria deveria começar a sua campanha? Deveria se
preocupar em sensibilizar a sociedade ou os professores? A mudança não deveria
começar em casa?
Como nunca gostei de demagogia
fico irritado com essa frase lançada ao ar para que cada um interprete como
quiser. Por favor, sindicatos, definam o que é educação pública de qualidade para
vocês.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 12 de
maio de 2013.