Parece-me
que há certa semelhança entre o modo de agir dos sindicatos e alguns credos
religiosos. Em que consiste essa semelhança? Em quais aspectos os dois se
aproximam?
As
religiões cristãs têm como pressuposto básico a existência do diabo. Esse ser,
por vezes cognominado de "tinhoso", é o responsável por tudo que
acontece de mal com as pessoas. Os adeptos de algumas dessas religiões não são
responsáveis por nada ou quase nada do que fazem ou do que enfrentam. Nesses
cultos, os conflitos familiares não são resultados de falta de respeito, não
resultam da falta de cortesia ou de dedicação, nunca é produto do alcoolismo, não
resulta do descuido no trato com o outro, nem é falta de recursos financeiros
ou má administração do dinheiro, é sempre a presença do "tinhoso" no
ninho doméstico.
Nessa
perspectiva a baixa renda não tem reação com a falta de preparo para o mercado
de trabalho, simplesmente é culpa do diabo que não deixa o sujeito ganhar mais.
Ser despedido do emprego nada tem com a falta de preparo, com irresponsabilidade
ou falta de compromisso, é sempre o inimigo invisível, o dito Satã que
atravanca o processo.
Dessa
forma os adeptos de tais religiões nunca são estimulados a melhorar como
pessoa, porque o problema nunca está neles. Não há razão para a instituição
promover cursos ou reuniões de preparo porque todo problema está fora do
sujeito e fora do controle.
Nos
sindicatos acontece algo semelhante. Para os sindicalistas o problema da
educação é o sistema, o governo, o aluno e a família. Nada do que acontece tem
a ver com a formação do professor, com o seu envolvimento pessoal com a
educação, com o assumir-se professor.
O professor assume que o problema da educação é
da família e que, se esta falha, nada lhe resta fazer como profissional. Não se
preocupa sobre o que dizer aos pais que desesperadamente buscam ouvir uma
palavra sua. Assume que ser professor é simplesmente transmitir informações que
já estão nos livros e, por vezes, nem mesmo as incrementam ou buscam dialogar
com os alunos.
Nenhum
professor apresenta um projeto sobre como reorientar as atividades da escola
visando diminuir a violência interna e melhorar a participação dos alunos. Seu
pensamento está sempre em inibir ações dos alunos e não em reorientar e promover
ações. Mas, na perspectiva dos sindicatos, isso não é papel dele. Pelo menos
não se vê essa discussão sendo posta em pauta.
Esquecem
que salário, embora seja importante e necessário, não é suficiente para
constituir o sujeito como profissional comprometido. Ele não garante que o
professor fará leituras sobre como orientar pais e bem se relacionar em
ambiente de trabalho.
Não há
discussão sobre a formação inicial do professor porque é ela que constitui a
sua identidade profissional. É durante a formação inicial que ele deve ser
orientado sobre leituras de relacionamentos, gestão escolar democrática,
elaboração de projetos, diálogos na educação, promoção da autonomia, potenciais
da educação escolar, potenciais educativos e usos da tecnologia.
Onde
entra o sindicado nessa discussão de formação inicial? Onde o sindicato põe em pauta o preparo do
professor para coordenar uma reunião de pais? Qual a contribuição do sindicato
na formação do professor para participar dos Conselhos Municipais onde pode
opinar sobre a gestão da sua comunidade?
Antonio
Sales
Campo
Grande, 13 de janeiro de 2014.
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