CONSIDERAÇÕES
SOBRE O MOVIMENTO DE VALORIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO
Como professor, venho
acompanhando com um misto de otimismo e descrença todo esse movimento em favor
de investimentos na educação. Fala-se em 10% do PIB e em recursos de PRÉ-SAL.
Parlamentares comprometidos com a educação fazem discursos inflamados e
coerentes defendendo com veemência tais investimentos. Nisso tudo vejo muita
coisa positiva. Vejo que mais jovens
poderão se interessar pelo estudo, que a carreira de professor pode se tornar
mais atraente financeiramente, portanto, mais competitiva e trazer para as
salas de aula pessoas com mais competência técnica. Vejo que o ambiente físico
poderá ser mais confortável e melhor equipado, portanto, mais imponente e oferecendo
menos razão para desculpas.
Com mais verbas as
bolsas de estudo para acadêmicos poderão ser mais significativas possibilitando
mais tempo de estudo e resultando em mais conhecimento técnico e científico.
Possivelmente chegará
um dia em que se dirá orgulhosamente: “sou da educação”.
Tenho minhas ressalvas,
meus temores. Mais dinheiro e mais competência técnica não garantem que os
profissionais sejam mais éticos e mais comprometidos. Portanto, além de mais
verbas precisamos também rever o currículo e os critérios para o ingresso na carreira.
Temo que professores
melhores remunerados, mas sem formação humanística, continuarão a desrespeitar
os alunos considerando que o cumprimento da ementa é mais importante do que a
aprendizagem, que a palavra do professor vale sempre mais do que a dos alunos, que o cultivo da técnica vale mais
do que o cultivo dos valores sociais (respeito, cooperação, diálogo). Observo
que nada se falou até agora da regulação da profissão com definição de atribuições
e limitações, isto é, de um conselho de ética. Até que ponto deve ir um professor para dizer que cumpriu a sua parte?
Não vejo nenhuma
discussão sobre isso.
Há uma frase muito
citada de Paulo Freire onde ele afirma que a educação sozinha não muda a
sociedade. É por concordar com Freire que tenho as minhas descrenças com
relação a esse movimento todo. Ele está centrado na educação e se esquecendo da
segurança, da saúde e da justiça.
Sem segurança não
haverá tranquilidade para trabalhar, sem saúde não haverá valorização do ser humano que continuará a
ser vilipendiado nos corredores dos hospitais e postos de atendimento e o aluno
chegará à escola amargando a sua dor, a sua frustração, a sua derrota. Chegará amargando
a sua condição de não-humano.
Sem investimento no
aparato judiciário o sistema prisional continuará precário com o apenado
cumprindo uma parte mínima da sua pena. Dessa forma, a impunidade continuará
vigorando, os desvios de verbas continuarão a solapar as estruturas e as obras
superfaturadas continuarão a minar os recursos públicos.
Como professor, defendo
que levantemos bem alto a bandeira da educação formal, mas que não nos
esqueçamos da assistência social não
paternalista às famílias. Falo de uma assistência socioeducativa. Que incluamos
nessa bandeira uma reforma na legislação referente ao adolescente, o
aparelhamento do sistema de segurança e o aumento do seu efetivo. Que saiamos
do pequeno mundo da sala de aula para ver o complexo sistema que nos enreda e
exigir uma ação mais rápida do judiciário, maior transparência do executivo e uma
reforma no legislativo.
Este último com
orçamento folgado aumenta o seu salário quando bem entende e paga para trabalhar
os que já são assalariados para isso. Em tais condições não sobrará dinheiro para
investimentos sociais e sobrará pouco espaço para renovação porque cada um terá
recursos para alimentar o seu clientelismo.
Que venha mais verba
para a educação, mais verba para a segurança e mais investimento sociais.
Precisamos disso. Mas, precisamos de mais do que isso. Precisamos de justiça
social.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 04 de
junho de 2013.
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