Estamos vivendo num período
em que a culpa é sempre da vítima. Essa é a tônica do noticiário. Quando alguém
é baleado em um assalto é por que fez um movimento brusco ou porque olhou para
o bandido com cara de susto, ou ainda porque não tinha dinheiro para entregar.
Deduz-se que se tivesse entregado o dinheiro não teria sido morto, se tivesse
permanecido imóvel não teriam sido morto. A jovem foi estuprada porque estava
sozinha na rua, o garoto teve o seu celular roubado porque estava telefonando
na rua, a casa foi arrombada porque não tem cerca elétrica ou cão bravo.
O discurso segue esse
diapasão de culpar a vítima.
Até parece que bandido
sente compaixão da vítima que fica quietinha ou que ele tem medo de um homem desarmado.
Todos eles sabem que os homens de bem estão desarmados.
Parece que é possível
prever a reação do bandido, sensibilizá-lo com cara de bonzinho ou acalmá-lo
colocando algumas notas na mão dele.
Parece que a vítima tem
que ter controle absoluto de si mesma e do bandido.
O bandido pode assustar
as pessoas, mas as vítimas não podem se assustar. Bandido pode fazer o que
quiser, a vítima deve ficar sempre quieta e depois que morre ainda levar a
culpa no caixão por ter tido a má sorte de se encontrar com um bandido.
O bandido pode ter medo
da vítima e se assustar com ela, mas esta não pode de medo dele, ter reações
bruscas, etc.
Parece que bandido não
tem alicate para cortar cerca elétrica e não sabe matar cachorro. Ele tem razão
para roubar e nós, cidadãos de bem, somos os culpados.
Parece que a mídia é
“amiga da onça”, está a serviço do bandido e precisa provar que ele tem razão. Seus
repórteres não têm olhos para ver o que realmente se passa. Eles não veem que ninguém
está sendo assassinado porque fez
movimentos bruscos. Ninguém está sendo
vítima por culpa própria, porque provocou o bandido. Estamos morrendo
assassinados pelas seguintes razões:
a)
Bandido é bandido. Ele não tem
consideração por ninguém. Está disposto fazer tudo que lhe vier à cabeça.
b)
O estado brasileiro é ausente. Ele não
investe em segurança. O efetivo policial é pequeno para dar segurança aos
cidadãos. Os carros policiais são sucateados. Triplique os número de policiais,
abasteça as viaturas, escale homens preparados para circularem pelas e veremos que os crimes diminuirão.
c)
O estado brasileiro é irresponsável. Ele
desarma o cidadão e não garante a sua segurança. Ele não investe na guarda das
fronteiras para diminuir o contrabando de armas.
d)
Nossos legisladores são coniventes com
os bandidos. Criam leis brandas e mal
elaboradas de modo a permitir a ação do advogado em defesa do bandido.
e)
O estado brasileiro gasta dinheiro com
jetons, mas não tem estrutura para manter o preso em regime fechado por todo
tempo da sua condenação. O bandido é condenado a 30 anos de prisão em regime
fechado, mas cumpre apenas uma parcela desse tempo.
f)
O estado brasileiro é paternalista para com
os bandidos. O cidadão de bem tem que trabalhar para viver, bandido não.
g)
As comissões de direitos humanos entendem
que humanos são apenas os bandidos. As famílias das vítimas não são humanos,
para eles.
Com essa visão da imprensa
e dos gestores do Brasil, vamos continuar sendo vítimas e culpados por muito
tempo.
Enquanto a sociedade civil organizada não se
manifestar o Brasil continuará o paraíso dos bandidos.
Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 08 de junho de 2013.
Nossa gente, faz tempo que sinto isso, essa inversão de valores na sociedade. Esse artigo faz uma excelente reflexão quem quiser se aventurar, recomendo! Adorei principalmente a parte do: "as famílias das vítimas não são humanos, para eles"! É, parece que é bem assim! Ah e tem uma lista infinita de coisas aqui que desejo acrescentar como por exemplo a inversão de valores que ocorre nas escolas. Enfim, vale a pena ler!
ResponderExcluirObrigado Eliza, pelas palavras de incentivo
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