Juçara Dutra Vieira,
professora da Rede Pública do Rio Grade do Sul e militante sindical escreveu um livro sobre o
“Retrato do Educador Brasileiro” tendo como título: “Identidade Expropriada”.
Nessa obra a autora se
fundamenta em dados estatísticos e tece considerações que merecem ser levada em
conta.
Ela enumera alguns
fatores que identificam e que conduziram à expropriação (perda de posse) da
identidade profissional do professor.
Um desses fatores é o
baixo salário da categoria que atraiu para a mesma um elevado número de
mulheres que fizeram da profissão apenas um complemento salarial. Essas
mulheres, envolvidas também com os
afazeres domésticos, deixaram de lado a participação política não partidária, a
participação nas atividades do sindicato, nos conselhos municipais etc. Esse
absenteísmo tornou-se regra na categoria e até mesmo os poucos homens que
exercem a profissão (e não cuidam da
casa) aderiram ao cômodo gesto de reclamar sem nada fazer além de cumprir o
horário regular de aula. A identidade política do professor se perdeu. Ele não
se compromete com a comunidade, não se envolve em projetos sociais e não
discute possíveis soluções para os problemas educacionais que lhe dizem e
respeito (como conduzir uma reunião de pais, como tratar a indisciplina e a
agressividade dos alunos, o que deve contemplar o Projeto Político Pedagógico
da escola, medidas socioeducativas etc.). Ele não tem identidade social.
A profissão entrou
agora em um círculo vicioso: o professor não faz por que ganha pouco (o salário
mal cobre as horas trabalhadas) e a sociedade não o defende porque ele não é
visto além da sala de aula com suas aulas, muitas vezes, monótonas,
repetitivas, incongruentes com os reclamos da atualidade. Os discursos em favor
do professor são, normalmente, monofrásicos e sempre os mesmos repetidos
historicamente. As mudanças sociais a partir da ação do professor são quase
imperceptíveis porque reduzidas à sala de aula.
E o professor está
consciente desse ciclo e preparado para o seu rompimento?
A pesquisa de Vieira
(2004, p.39-41) indicou que 90% dos professores tinham habilitação e 27,6% já
eram pós-graduados, mas a autora pergunta: a “formação ainda basta?”. Em
seguida ela afirma que “a formação permanente impõe-se para um e outro” (os
antigos e os recém-formados). A formação deve ser não somente contínua, mas
também atualizada. A “atualização precisa ser teórica, metodológica e abranger
a área específica de atuação do educador”.
Observe que a autora
não fala em atuação do professor, mas em atuação do educador. Educador é alguém
comprometido com as transformações sociais, vai além do quadro e do giz. A
formação do educador, além de contemplar o domínio do conteúdo específico, deve
incluir formação política, capacidade para analisar e discutir as condições
sociais e fazer intervenção quando necessário.
No contexto atual pouca
coisa funciona como antigamente e quase nada se parece com os modelos tradicionais
ainda vigentes nos meios universitários. Hoje as crianças já não aprendem mais
apenas copiando como antes, mas agindo e falando. A sociedade já não se
contenta mais com uma ação pontual do profissional, com o produto de uma ação
isolada que não a envolva no processo. Ela “reclama”, num clamor silencioso,
porém, angustiante, por algo mais.
A identidade
expropriada do professor o levou a uma ação rotineira, incapaz de agir
preventivamente, não preparado para uma ação política que mobilize a sociedade.
A quem cabe iniciar o processo
de rompimento desse círculo vicioso que descontenta a todos?
Descontente está o professor
com a sua situação econômica e com o respaldo (ou não respaldo) que recebe da
sociedade. Descontente está a sociedade com a apatia, a mesmice, e os frequentes
reclamos sem proposições do professor.
Quem deve começar a mudança?
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 02 de junho de 2013.
Referência
VIEIRA, Juçara Dutra. Identidade Expropriada: retrato do
educador brasileiro. 2.ed.Brasília, DF: CNTE, 2004.
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