Convidado para falar a
um grupo de estudantes, que se preparavam para o magistério nos anos iniciais,
foi-me solicitado que tratasse das perspectivas de se tratar a matemática
escolar de modo a torna-la atraente.
Atendendo ao solicitado
discorri sobre formas alternativas de abordar as operações e como explorar a
matemática enquanto se estuda a tabuada. Propus atividades que envolveram os
presentes e no final uma voz se levantou no auditório e fez um desafio: porque
você não vai às escolas nos ensinar isso?
Confesso que gostaria
de ter essa oportunidade. Penso que a matemática nem sempre é bem ensinada nas
escolas e nas universidades. Nas escolas esse trato não muito próprio nem
sempre é culpa dos professores. Eles são mal orientados e encontram um ambiente
não muito propício. Nas universidades, por sua vez, predomina uma visão
tecnicista da educação centrada na memorização de regras e repetição de modelos
que não privilegia o entendimento.
Em minha resposta à
pessoa que me desafiou falei das dificuldades para ter acesso às escolas com uma proposta diferente. Falei
que quando atuava na educação fundamental executei muitas dessas práticas, mas
agora que estou em outra instituição tenho dificuldade de acesso. A escola está
centrada no cumprimento da ementa e não
no aprendizado do aluno. Não aceita arriscar uma nova proposta. Os professores
querem trabalhar os “descritores” e não a matemática.
Quando atuei na
educação básica consegui realizar alguns projetos pessoais de novas abordagens
da matemática. Fiz porque me portava
como profissional que assume a sala de aula como tal e faz o que acredita que
deve ser feito independente da ementa ou de qualquer pressão que pudesse vir.
Sempre fiz “jogo
limpo”. Nas reuniões de pais defendia as minhas propostas, nas reuniões
pedagógicas anunciava a minha didática, combinava com os alunos e pedia a
colaboração deles para as tentativas que faria.
Muitos alunos percebiam
logo que minha abordagem era diferente e manifestavam verbalmente que tinham
percebido essa diferença.
Recentemente encontrei
uma ex-aluna do ensino médio. Não a reconheci de imediato, mas ela se dirigiu a
mim e após se apresentar disse: “sempre me lembro, e comento com colegas, que foi com o senhor que em toda minha vida
estudantil fizemos uma verdadeira exposição numa feira de ciências. Não era
cópia, foi uma produção nossa. Precisava lhe dizer isso”.
Nem sempre encontrei
facilidade, nem sempre tive alunos abertos a novas práticas mas sempre anunciei
o que pretendia fazer, quais os objetivos e lutei por um trabalho diferenciado.
Na universidade também
me aventuro. Já produzimos um teorema em sala de aula com acadêmicos de
primeiro ano (http://www.uems.br/semana/2010/artigos/06.pdf).
Voltando ao desafio e à
explicação que dei, confesso que encontro uma contradição na vida de professor.
Ele é o profissional que não se assume profissional. Ele é o intelectual que não estuda, não ousa
e que se sente eterno dependente de alguém para lhe dizer o que fazer. É o
profissional da repetição, da ausência de sentido no que faz e da falta de
estímulo. É o profissional que, em muitas escolas, recebe receitas prontas e se
sente confortável com essa situação.
Mas encontro outra
contradição nas escolas: a excessiva preocupação com a ementa. Os coordenadores
pedagógicos de muitas escolas atuam mais como técnicos fiscalizadores de
ementas.
A seguinte pergunta é
inevitável: em escolas com essa característica como se pode inovar quando se é
obrigado a um agir programado?
Nessas escolas não se
perguntam sobre os prejuízos de certo comportamento para o aluno, mas sobre os prejuízos para a ementa. Esquecem que mais importante
do que cumprir ementas é aprender. Uma ementa anual pode ser cumprida em um
mês, portanto cumprir ementa não é problema. O problema é o aluno aprender.
No meu entender a ementa é um referencial.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 9 de
março de 2013.
Não sou professor da rede estadual, porém, tenho muito contato com os professores de Física e Matemática da rede. Percebo, em nossos encontros, que todos estão angustiados com esta situação: o sistema está muito mais preocupado com o cumprimento das ementas e com a elaboração de planos de ensino, do que com o aprendizado dos alunos.
ResponderExcluirTurina.
É uma situação muito triste, Prof. Turina. O pior porém é que o professor não tem contraproposta.
ResponderExcluir