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domingo, 24 de junho de 2012

PRODUTORES OU CONSUMIDORES DE CONHECIMENTO?


Imagino-me em um supermercado (especificamente na seção de verduras) e começo a pensar sobre os diversos tipos de clientes que passam por ali.
A dona de casa olha atentamente o preço e o estado de conservação e se pergunta: vale a pena comprar? vai atender as necessidades da minha família
Eu, olho-as (as verduras) superficialmente e me pergunto: como se prepara  isso para servir? Em seguida sussurro: prefiro pronto!
 Algum agricultor que cultiva ou cultivou hortaliças olha-as com um olhar diferente. Para ele deve trazer algum prazer  o imaginar como foram cultivadas, os produtos agrícolas utilizados na sua produção, o estado de conservação, a forma como foram transportadas, e alguns detalhes mais que desconheço. Ele olha-as com admiração e vê ali uma parte  de si, um  "pedaço" da sua história, uma história que gostaria de me contar mas que estou pouco disposto a conhecer.
Há em nossa sala de aula futuros produtores do saber. Gostam  de pensar nas causas. Deliciam-se com os por quês. Procuram descobrir as relações  existentes . Há na mesma sala os consumidores que são como os cozinheiros, apreciam saber usar, preparar o próprio cardápio a partir do material produzido. Mas, há também na mesma sala, aqueles que querem apenas saber  consumir certo tipo de conhecimento. Temos, nesses três exemplos, os teóricos, os práticos e os  usuários.
Pensando na Matemática diríamos que uns, talvez poucos, um dia se tornarão matemáticos da linha de pesquisa da Matemática Pura. Outros, também não muitos, se tornarão matemáticos aplicados, educadores matemáticos, usuários não comuns da Matemática (engenheiros e físicos, por exemplo).
 A grande maioria, porém, usará a matemática pronta nas tabelas, no Excel, nas calculadoras e outros software disponíveis.
Como a escola se organiza  para atender a esses  interesses divergentes?
Resposta direta : não se organiza. Ela trata todos como se fossem se tornar apenas usuários comuns. Em termos de provocar a busca pelo saber diríamos que nivela todos por baixo. Ela não valoriza os alunos que se identificam com a ciência. O projeto escolar consiste em concentrar energia em quem não quer aprender determinada ciência. As aulas de reforço ou acompanhamento em algumas disciplinas atestam disso.
A aula no horário regular caminha a passos lentos por causa daqueles que estão pouco interessados e não se faz nenhum  esforço para recuperar o tempo que o outro perdeu esperando por ele. Investe-se mais em quem não quer aprender do que em quem quer.
Quando falo de alunos que não querem aprender estou pensando nos que não querem aprender, matemática, por exemplo (o que estou ensinando), mas estão interessados em aprender  outros conteúdos.
Meu pressuposto é que a dificuldade de muitos alunos em aprender  uma certa disciplina consiste na sua falta de interesse por ela, em não ver sentido nela para atender as suas necessidades. Ela não se encaixa no seu esboço de projeto de vida.
Por exemplo um aluno pode não ver sentido na Matemática e ver muito sentido em História. Nesse caso porque não potencializar esse seu interesse através de atividades de aprofundamento na disciplina de sua preferência?
Quando há aulas de "reforço" ou acompanhamento (por que não são aulas de estudo e aprofundamento?) geralmente são nas disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa. As outras disciplinas não são importantes? Não vale a pena o aluno aprendê-las? Por que estão no currículo?
Penso que  escola deveria cuidar desses diversos interesses dos alunos oferecendo oportunidades de aprofundamentos,  no horário destinado aos ultrapassados  reforços atuais acompanhamentos,  para alunos que queiram  estudar as diversas disciplinas.  Não somente para os "fracos" e  em Matemática, mas  para os "bons" e em todas as disciplinas.
Deveria haver um momento para todos e um momento para os “bons”. Meu pressuposto é que todos os alunos querem aprender, eles só não estão interessados no tema que estou tentando ensiná-los. Se a escola se dispuser atendê-los em seus  interesses não daria resultados? Por que todos necessitam aprender Matemática?  Não possível  ser feliz sabendo História, Geografia,  Biologia, Língua Inglesa, etc.? Por que  escola não valoriza esses saberes, ou melhor, os alunos que se identificam com esses saberes? Quem não se identifica com a Matemática é pessoa de mau gosto e sem possibilidade de contribuir para com a sociedade?
Por que não há projetos de "reforço" ou de acompanhamento ( prefiro projetos de estudo, de aprofundamentos) nessas disciplinas? Uma pessoa pode ser simples consumidora de Matemática e produtora de Geografia. E se ela for  consumidora de todas as disciplinas escolares, mas competente produtora de verduras? Ela é inútil por isso? E se ela se tornar uma eletricista competente e confiável, mas não se formar em Matemática ela é de segunda categoria?

Todos devem ser "produtores"?
Campo Grande,  23 de junho de 2012.
Antônio Sales      profesales@hotmail.com

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