Imagino-me em um supermercado (especificamente na seção de
verduras) e começo a pensar sobre os diversos tipos de clientes que passam por
ali.
A dona de casa olha atentamente o preço e o estado de conservação e se pergunta: vale a pena comprar? vai atender as necessidades da minha família
Eu, olho-as (as verduras) superficialmente e me pergunto: como se prepara isso para servir? Em seguida sussurro: prefiro pronto!
A dona de casa olha atentamente o preço e o estado de conservação e se pergunta: vale a pena comprar? vai atender as necessidades da minha família
Eu, olho-as (as verduras) superficialmente e me pergunto: como se prepara isso para servir? Em seguida sussurro: prefiro pronto!
Algum agricultor que
cultiva ou cultivou hortaliças olha-as com um olhar diferente. Para ele deve
trazer algum prazer o imaginar como
foram cultivadas, os produtos agrícolas utilizados na sua produção, o estado de
conservação, a forma como foram transportadas, e alguns detalhes mais que
desconheço. Ele olha-as com admiração e vê ali uma parte de si, um
"pedaço" da sua história, uma história que gostaria de me
contar mas que estou pouco disposto a conhecer.
Há em nossa sala de aula futuros produtores do saber.
Gostam de pensar nas causas. Deliciam-se
com os por quês. Procuram descobrir as relações
existentes . Há na mesma sala os consumidores que são como os
cozinheiros, apreciam saber usar, preparar o próprio cardápio a partir do
material produzido. Mas, há também na mesma sala, aqueles que querem apenas
saber consumir certo tipo de
conhecimento. Temos, nesses três exemplos, os teóricos, os práticos e os usuários.
Pensando na Matemática diríamos que uns, talvez poucos, um dia
se tornarão matemáticos da linha de pesquisa da Matemática Pura. Outros, também
não muitos, se tornarão matemáticos aplicados, educadores matemáticos, usuários
não comuns da Matemática (engenheiros e físicos, por exemplo).
A grande maioria,
porém, usará a matemática pronta nas tabelas, no Excel, nas calculadoras e
outros software disponíveis.
Como a escola se organiza
para atender a esses interesses
divergentes?
Resposta direta : não se organiza. Ela trata todos como se
fossem se tornar apenas usuários comuns. Em termos de provocar a busca pelo
saber diríamos que nivela todos por baixo. Ela não valoriza os alunos que se
identificam com a ciência. O projeto escolar consiste em concentrar energia em
quem não quer aprender determinada ciência. As aulas de reforço ou
acompanhamento em algumas disciplinas atestam disso.
A aula no horário regular caminha a passos lentos por causa
daqueles que estão pouco interessados e não se faz nenhum esforço para recuperar o tempo que o outro
perdeu esperando por ele. Investe-se mais em quem não quer aprender do que em
quem quer.
Quando falo de alunos que não querem aprender estou pensando
nos que não querem aprender, matemática, por exemplo (o que estou ensinando),
mas estão interessados em aprender
outros conteúdos.
Meu pressuposto é que a dificuldade de muitos alunos em
aprender uma certa disciplina consiste
na sua falta de interesse por ela, em não ver sentido nela para atender as suas
necessidades. Ela não se encaixa no seu esboço de projeto de vida.
Por exemplo um aluno pode não ver sentido na Matemática e ver muito sentido em História. Nesse caso porque não potencializar esse seu interesse através de atividades de aprofundamento na disciplina de sua preferência?
Por exemplo um aluno pode não ver sentido na Matemática e ver muito sentido em História. Nesse caso porque não potencializar esse seu interesse através de atividades de aprofundamento na disciplina de sua preferência?
Quando há aulas de "reforço" ou acompanhamento (por
que não são aulas de estudo e aprofundamento?) geralmente são nas disciplinas
de Matemática e Língua Portuguesa. As outras disciplinas não são importantes?
Não vale a pena o aluno aprendê-las? Por que estão no currículo?
Penso que escola
deveria cuidar desses diversos interesses dos alunos oferecendo oportunidades
de aprofundamentos, no horário destinado
aos ultrapassados reforços atuais
acompanhamentos, para alunos que
queiram estudar as diversas
disciplinas. Não somente para os
"fracos" e em Matemática, mas para os "bons" e em todas as
disciplinas.
Deveria haver um momento para todos e um momento para os “bons”.
Meu pressuposto é que todos os alunos querem aprender, eles só não estão
interessados no tema que estou tentando ensiná-los. Se a escola se dispuser
atendê-los em seus interesses não daria
resultados? Por que todos necessitam aprender Matemática? Não possível
ser feliz sabendo História, Geografia,
Biologia, Língua Inglesa, etc.? Por que
escola não valoriza esses saberes, ou melhor, os alunos que se
identificam com esses saberes? Quem não se identifica com a Matemática é pessoa
de mau gosto e sem possibilidade de contribuir para com a sociedade?
Por que não há projetos de "reforço" ou de
acompanhamento ( prefiro projetos de estudo, de aprofundamentos) nessas
disciplinas? Uma pessoa pode ser simples consumidora de Matemática e produtora
de Geografia. E se ela for consumidora
de todas as disciplinas escolares, mas competente produtora de verduras? Ela é
inútil por isso? E se ela se tornar uma eletricista competente e confiável, mas
não se formar em Matemática ela é de segunda categoria?
Todos devem ser "produtores"?
Campo Grande, 23 de
junho de 2012.
Antônio Sales profesales@hotmail.com
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