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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ALGUNS VÍCIOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Que a educação no Brasil carece de qualidade parece ser consenso geral. Pelo menos todos falam a mesma coisa. Talvez até já seja um vício falar mal do professor e da educação, mas de qualquer forma estou disposto a concordar que algo não vai bem.
Temos uma cultura de não valorizar o conhecimento. Valorizamos mais a esperteza. As oportunidades de conseguir alguma coisa sem esforço nos fascinam. Parece que somos um povo cansado de trabalhar sem resultados, sem valorização, sem reconhecimentos.
Na educação não é diferente porque nossos alunos são produtos dessa cultura de que não vale a pena se esforçar. Pensam que não vai mudar muito a sua condição e perguntam: para que estudar?  Há também a cultura de que o professor é o  responsável pela aprendizagem do aluno. A forma clássica de aula onde o professor escreve tudo no quadro e o aluno copia e tenta decorar reforça essa postura de responsabilizar o professor.
Parece evidente que há exceções e que algumas escolas conseguem amealhar uma clientela que pensa diferente. Temos também professores que trabalham na perspectiva de envolver o aluno no processo. Já descobriram que copiar o livro no quadro para o aluno copiar no caderno é um atraso de vida. Mas esse ainda é um dos vícios da educação: copiar, memorizar, “papagaiar” na prova e jogar fora depois.
De forma geral, porém, esperar tudo do professor  é o espírito que permeia a clientela estudantil. Aqueles que estudam fazem-no por conta própria, isto é, na contramão da cultura geral. Às vezes são até mal vistos pelos colegas que conseguem nota e sem esforços. Reprovar “todo mundo” deixa o professor em uma situação delicada e por isso dá-se um jeito. Por outro lado, se o professor não é reflexivo, não teoriza a sua prática, não sabe justificar o seu procedimento e nem os resultados, é melhor que não reprove mesmo. Na dúvida, a favor do aluno.
Essa cultura de estudar pouco e esperar tudo do professor, que também não sabe o que fazer ou porque faz, têm produzido muitos vícios no ambiente escolar. Vícios que dificilmente serão superados porque se transformaram em círculos viciosos.
Um desses vícios é a revisão para a prova. As últimas aulas antes da prova são dedicadas à revisão da materia em sala de aula. Pressionado a produzir resultados em uma clientela que não estuda o professor viu-se obrigado a fazer revisão. A moda pegou e virou um círculo vicioso. O professor faz revisão porque o aluno não estuda e o aluno não estuda porque o professor vai fazer revisão.
O professor não cobra na prova o que não “deu” na revisão e não revisa o que não vai cobrar na prova. Isso é o mesmo que avisar ao aluno quais os itens que cairão na prova e o aluno não se esforça (“não tira nota” ) porque ainda terá a recuperação.
 As revisões diminuem o tempo de fazer o processo andar ( atrasa o quantidade de conteúdo estudado)  e o processo não pode andar porque senão o conteúdo não “cabe” nas revisões.
Depois disso tudo dizem que a escola brasileira não ensina e que o professor é o único culpado. Penso que é mesmo porque ele, como profissional, deveria reagir quando lhe pressionam pela nota. Ele deveria focalizar esses fatores culturais e sociais que atravancam o seu trabalho. Deveria pensar em outras formas de agir. Afinal, ele é profissional para quê?
A escola como um todo, por sua vez, deveria pensar no problema de forma mais ampla do que simplesmente na nota do aluno. Precisa pensar em uma forma de combater essa cultura funesta e romper com esses vícios. Precisa encontrar saídas mais inteligentes do que ficar concentrada em notas.
O professor elabora uma prova fácil para que o aluno possa “tirar nota” e o aluno não estuda porque a prova será fácil e não o desafia. Não quero dizer que se devem elaborar provas difíceis. Estou propondo que se pense o problema a  partir de outra perspectiva. Qual? Estou lançando o desafio. Vamos pensar juntos. Afinal, somos intelectuais.  A escola deve ser um espaço de reflexão e o locus de formação e reformulação de hábitos.
O aluno “cola” porque as questões são exatamente iguais as que foram estudadas em sala de aula e o professor inclui as mesmas questões na prova para ver se o aluno não precisa colar.
Não é mesmo um círculo vicioso?
Nova Andradina, 30 de novembro de  2011.
Antonio Sales  profesales@hotmail.com

2 comentários:

  1. Realmente, penso que se trata de cultura e em meio fatores extenos (cobranças) e internos (concepções e crenças)o professor sente-se incapaz de mudar essa realidade.

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  2. Também concordo com as idéias apresentadas sobre os Vícios, muitas atitudes reproduzimos em nossa prática docente e não refletimos sobre esse processo de vícios que adquirimos da cultura escolar.

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