Goergen
(*) começa o seu livro falando do desencantamento com a modernidade pelo que
esta trouxe nos lombos de dois "cavalos
fogosos" como ele cognominou a ciência e a tecnologia. Os dois
cavalos trouxeram em suas preciosas cargas abismos assustadores ou seja as
"dicotomias individuais e sociais" tais como a pobreza e a riqueza, a
fartura e a fome, a saúde e a ausência de assistência, o excesso de informação e a precariedade da educação.
Penso que
esse descantamento também ocorre com relação à educação. Esta vem carregada por
uma carruagem puxada por vários pangarés mal domados, tais como: salários
baixos, formação precária, ética inexistente, cultura perversa de tirar
vantagem em tudo ou estar de bem sempre, sobrecarga de trabalho e excesso de responsabilidade,
ausência de base material para desenvolver o trabalho, desilusão, etc.
Por um
lado clamamos por mais recursos financeiros (salários) que, com certeza, nos
colocará em condição de melhorar a nossa própria formação, reduzir um pouco a nossa
carga de trabalho, dar melhor assistência à nossa família e dar mais
contribuição à comunidade onde estamos inseridos.
Por outro
lado, sentimos um frio na barriga porque temos consciência de que não são
recursos financeiros para a escola ou melhores salários para os professores que
levarão os alunos à aprendizagem. Temos consciência de que não sabemos o
que oferecer à nossa comunidade. Nós que temos a função de
desalienar os nossos estudantes, somos,
nós mesmos, alienados.
Nossos discursos repetitivos, mesmo quando
centrados em teóricos, revelam a nossa incapacidade de operacionalizar a educação
dos nossos alunos. Nossa dependência de regras fixas e ações fiscalizadoras
para que realizemos o nosso trabalho responsavelmente mostra a nossa carência
de autonomia moral e, ao mesmo tempo, nossa alienação politica.
Essa
alienação política está também presente
na nossa ausência nos conselhos municipais onde podemos opinar. Não vamos lá
porque não sabemos da existência, porque não sabemos o que fazer, porque não
temos tempo ou porque não estamos dispostos a dedicar tempo a essas coisas. Em
outras palavras: não somos politizados.
O poder
público em contrapartida tenta resolver o problema baixando os famosos
“pacotes” forçando a educação a não parar ou a não retroceder, mas não são
"pacotes" produzidos nas secretarias, não são planejamentos
controlados que produzem mudanças. O que produz mudanças é o compromisso dos
sujeitos amparados por condições de trabalhos (internet nas escolas, sala de
professores com espaço para exposição dos materiais didáticos, etc.). Sujeitos
conscientes e comprometidos operam mudanças enquanto "pacotes" mesmo
quando baixados pelos órgãos competentes, produzem lamúrias nas
"almas" vazias de sentido. Há que se acrescentar ainda que ordens de
trabalho sem as condições correspondentes são pouco favoráveis.
Não adianta
a escola ter material didático para ficar guardado na sala da direção por falta de espaço na sala de professores.
Não ajuda diário online se a internet
da escola não comporta a ação der vários professores ao mesmo tempo.
Não é
preciso ser muito entendido para perceber que somos produtos de
uma construção (ou descontração?) perversa que nos colocou na posição de
vítimas, de coitadinhos, de famintos crônicos de pão e saber. Vamos para a
faculdade de licenciatura por falta de opção e lá nos ensinam o que não
precisamos aprender, não nos colocam frente a frente com o ser professor da
educação básica (exceto no curto período dos estágios), não nos ensinam a
pensar e nem nos colocam na posição de um sujeito político, de direitos.
Dizendo em outras palavras, nos mediocrizam ainda mais. É lá na universidade
que aprendemos a não valorizar o social e nem a gerenciar conflitos. É nessa
mesma universidade que nossos direitos não são respeitados e não temos a quem
recorrer. Professores chegam atrasados e
não reclamamos porque a presença deles não nos acrescenta.
É na
universidade que o professor não consegue estabelecer relações entre a ciência
e o social e nos deixa desprovidos dessa importante informação e formação.
É na universidade que se aprende que não é importante ser professor, que devemos buscar outros caminhos, enveredar pela pós-graduação não como forma de aperfeiçoamento profissional, mas como meio de uma possível fuga da profissão.
É lá que temos professores que não queriam ser professores nos ensinando a "professorar". É lá que temos professores que se tornaram tal porque não conseguem sobreviver do que escolheram ser.
É na universidade que se aprende que não é importante ser professor, que devemos buscar outros caminhos, enveredar pela pós-graduação não como forma de aperfeiçoamento profissional, mas como meio de uma possível fuga da profissão.
É lá que temos professores que não queriam ser professores nos ensinando a "professorar". É lá que temos professores que se tornaram tal porque não conseguem sobreviver do que escolheram ser.
Esses
fatores nos alienam e saímos de lá supondo que basta um bom salário para que
sejamos felizes, competentes, respeitados. Saímos de lá sem saber a quem recorrer quando
as coisas não funcionam na escola.
Apesar de
tudo isso se atribui à educação a responsabilidade de mudar os rumos do país e
nos embrenhamos nesse discurso sem
perceber que as mudanças mais significativas são produzidas pela política. É
pela militância que os grupos conseguem direitos e se impõem. É pela educação
popular que encontram os caminhos. A
educação formal tem produzido técnicos (alguns necessários e importantes como os bioquímicos, cirurgiões, engenheiros,
etc.), mas não produz militância, não ensina
reverter decisões políticas e não ensina transformar a sociedade.
Precisamos
aprender a ser professor.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova
Andradina, 27 de junho de 2013.
(*)GOERGEN, Pedro. Pós-modernidade, Ética e Educação. 2.ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.
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