Não tomarei por base a
legislação vigente, mas as minhas observações dos fatos. Por não ser um cientista social ou político
falo como um observador leigo.
Tenho a impressão de
que nos últimos pleitos retrocedemos no processo eleitoral. Penso que alguns
comportamentos, no meu entender, retrógrados vêm se fazendo presentes sem que o
povo se dê conta ou leve a sério.
Um comportamento por
mim observado, já em vias de repetição, consiste em alguns eleitos ficarem
“sujando” o antecessor como forma de justificar as ações rústicas e truculentas
que tomarão. Para “sujar” o antecessor citam cifras vultosas e deploram ações
que eles próprios praticaram ou praticam, quando no poder, sem pedir desculpas
à população.
Ressaltam os defeitos
do antecessor como forma de justificar a incompetência para fazer melhor ou
falta de coragem para tomar posição contra
a corrupção. Discursar apontando culpados é mais fácil do que agir
punindo esses culpados ou ferindo a própria carne.
Outro comportamento
observado consiste em priorizar ações que geram mais publicidade do que
merecem. Como exemplo cito a construção
de uma praça que ficará no abandono ou aos cuidados de malfeitores por falta de
uma assistência do poder público através de um vigia.
O que se vê, normalmente,
é o vigia ser contratado somente depois que a praça foi dominada pelos que a
depredaram e posaram-se como donos do lugar. É evidente que, nesse caso, os
malfeitores oferecerão tal resistência que não será mais vencida por um único
homem. Mas, infelizmente, primeiro esperam deteriorar, esperam a população se
desestimular do uso, se ausentar, e
depois fingem cuidar.
É uma forma
irresponsável de agir, de gastar dinheiro no que não traz benefícios e só
aumenta a falta de educação do povo.
Após esse processo todo
de ausência culpam a população de falta de cuidado. Provavelmente isso acontece
porque culpar a população pela depredação ou falta de interesse fica mais
barato e justifica omissões.
Fica a pergunta: para
que construir praças que não serão cuidadas e, consequentemente, não utilizadas
pela população? Será que esperam que a escola também vá até a praça inibir
malfeitores e estimular a prática da educação?
Um terceiro
comportamento que no meu entender é retrógrado, corrupto mesmo, consiste no
fato de apoiar mais as grandes empresas do que os pequenos empreendedores. Exemplificando: uma empresa de ônibus que não
atende bem a população com os seus horários é mantida por anos a fio em
detrimento de pequenos empresários que poderiam oferecer melhor assistência.
Talvez isso aconteça
porque com as grandes empresas seja mais fácil negociar patrocínios. Suponho
que seja muito importante saldar dívidas eleitorais, logo, quem não pode
contribuir com dinheiro deve contribuir com sacrifício. Votou, pague o preço.
Um quarto comportamento
observado por mim com muito desprazer é o desequilíbrio entre os investimentos
em obras físicas e os investimentos em proteção direta ao cidadão. Talvez
porque nos primeiros as placas sejam mais visíveis e, consequentemente,
produzem mais votos. Infelizmente o povo parece não ter aprendido dimensionar a
sua própria necessidade. Talvez falte ao povo o hábito de refletir e discutir se
seria preferível ter segurança numa rua sem asfalto ou ter asfalto numa rua sem
segurança.
Nas campanhas também
são visíveis os comportamentos imbecilizantes do povo. Um amigo informou-me que
numa cidade do interior paulista um candidato tinha como slogan uma frase que dizia que para mudar o contexto era preciso mudar
o jeito de votar. Sugeria, dessa forma, que votar nele seria votar diferente, votar
na mudança. No entanto, não apresentou proposta, não disse por que se
candidatava ou qual a sua bandeira de luta. Muita gente não percebeu que não
havendo propostas não há mudança.
É estarrecedor pensar
que haja quem, em pleno século XXI, esteja mais interessado em ludibriar, com
um sorriso hipócrita e uma frase sem sentido, um povo sofrido e carente até de
afeto.
São comportamentos
assim que me reportam a tempos passados, remotos, quando o pobre era objeto de
exploração exatamente pela sua pobreza. Nessa lógica o fraco deve ser
espezinhado, enganado, usado como adubo para discursos, ora vazios e ora
truculentos, e como degrau para se chegar aos cofres públicos.
A essas alturas o
leitor pode estar perguntando: onde o professor entra nessa discussão?
É certo que ele não
pode e não deve defender esta ou aquela proposta de algum candidato ou partido
em sala de aula, mas pode discutir o que é uma proposta, quando uma proposta é
útil e viável, o que a população deve esperar dos candidatos e assim por
diante. Qual deve ser a prioridade: asfalto ou segurança? Os asfaltos têm
escoamento das águas pluviais? A educação do povo se faz somente na escola ou
também através da presença do poder público nas praças, nas filas e nas ruas?
A pretensa neutralidade
do professor mais beneficia os corruptos do que ajuda na escolha dos melhores.
Antonio Sales
Maio de 2013