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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

CONSELHOS DE UM TERAPEUTA




Evite diagnóstico diz Yalon (2006). O diagnóstico é útil para os administradores do sistema. Eles precisam detectar pontos fracos para investir na correção dos mesmos. Precisam direcionar recursos, fazer planejamento racional. O diagnóstico é útil também nos casos de patologias com "substrato biológico"(p.23) como dificuldades auditivas (motivos de alguns alunos não entenderem o que é dito pelo professor), ou visuais (impede a aprender escrever ou ler). Isso no caso da sala de aula porque na terapia os problemas seriam outros. 
Também é importante procurar um diagnóstico nos casos de comprometimentos graves como a agressividade, por exemplo. O aluno muito agressivo pode estar sendo violentado e a sua agressividade pode ser uma vingança ou uma denúncia. Um aluno muito quieto, arredio, excessivamente tímido, também requer atenção especial. Em casos assim a prática do diagnóstico, por mais de um profissional inclusive, deve ser requerida.
Nos casos mais suaves que dão indícios de estarem próximos da normalidade o diagnóstico  pode ser prejudicial. Ele  rotula, limita a visão do profissional que procura ver o aluno sempre com aquele olhar. Uma vez feito o diagnóstico o profissional deixa de dar atenção completa. Tudo que não se encaixa no seu diagnóstico é descartado.
Um diagnóstico pode se transformar em uma "profecia que se realiza a si própria" (p. 23). 
É preciso dar atenção aos múltiplos indicativos de necessidade, de vontade, de superação, de desânimo. Tudo isso sem rotular, sem diagnosticar, sem fazer afirmações conclusivas.
Yalon cita que "André Malraux, romancista francês, descreveu um padre da zona rural que tinha ouvido confissões por muitas décadas e havia resumido aquilo que aprendera sobre a natureza humana da seguinte maneira: 'Antes de mais nada, as pessoas são bem mais infelizes do que imaginamos ... Não existe essa coisa de pessoa adulta.' Todo mundo - isso inclui tanto os [professores] quanto os [alunos]-está destinado a experimentar não apenas alegria na vida, mas também sua inevitável escuridão: desilusão, envelhecimento, doença, isolamento, perda, sensação de falta de sentido, escolhas dolorosas, [descontentamento com alguém ou alguma disciplina], [desejo de abandonar a escola] e morte" (p. 25).
Diante disso Yalon diz que prefere pensar nos seus pacientes como seus companheiros de viagem e narra uma história interessante de parceria. A história de dois curandeiros concorrentes que não se conheciam: um jovem e um experiente. Tinham métodos diferentes, mas tinham sucesso e alcançaram fama. O jovem ouvia os peregrinos que o procuravam sem recriminá-los e eles saíam aliviados do fardo que os oprimiam. O experiente, por sua vez, intervinha, opinava, mostrava os erros cometidos por eles, “adivinhava e confrontava-os com os seus pecados inconfessos, ordenava penitências e obrigava os inimigos a fazerem as pazes” (p. 26-28).
Passados os anos o jovem sentiu-se frustrado com o seu trabalho porque era incapaz de curar a si mesmo, de aliviar o seu próprio fardo, e resolveu procurar o seu concorrente, o curandeiro mais experiente. Viajou pelo deserto e num oásis se deparou com um viajante mais velho que o acolheu amavelmente.
Quando o jovem revelou o seu destino o curandeiro experiente identificou-se e disse que também estava à sua procura porque precisava dele como parceiro de trabalho. A realidade é que ambos os curandeiros estavam feridos e sentiam-se incapazes da autocura. 
Combinaram de trabalhar juntos e um ajudar o outro. Por anos assim fizeram e continuaram tendo sucesso. O jovem tornou aprendiz do experiente e este conselheiro do jovem.
Quando finalmente, a hora chegou para o mais experiente este chamou o mais jovem para o último adeus e confessou que recebera um milagre pela sua presença. Recebera dele o conforto quando se encontraram porque também ele estava em desespero, ele também não se sentia realizado e quando se encontraram estava à procura de um famoso curandeiro jovem que aliviava o fardo de todos. Precisava de cura.
O milagre é que os dois se ajudaram mutuamente.
Finalmente, Yalon, conclui a história dizendo que o verdadeiro milagre aconteceu quando ambos "abraçaram a honestidade" de admitir que precisavam da ajuda um do outro.
O milagre da educação acontece quando professor e aluno sentem que um precisa do outro.
Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), 05 de Janeiro de 2013.
Antonio Sales                            profesales@hotmail.com

YALON, Irvin D.  Os desafios da terapia: reflexões para pacientes e terapeutas. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.

2 comentários:

  1. Interessante Sales, a aplicação que você fez desse princípio dos curadores feridos para a educação. É isso mesmo, todos somos companheiros de viagem. Se tivermos essa visão, tanto na vida educacional ou em outros aspectos, vamos perceber que a parceria é fundamental.

    Genival Mota

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