Evite diagnóstico diz Yalon (2006). O diagnóstico é
útil para os administradores do sistema. Eles precisam detectar pontos fracos
para investir na correção dos mesmos. Precisam direcionar recursos, fazer
planejamento racional. O diagnóstico é útil também nos casos de patologias com
"substrato biológico"(p.23) como dificuldades auditivas (motivos de
alguns alunos não entenderem o que é dito pelo professor), ou visuais (impede a
aprender escrever ou ler). Isso no caso da sala de aula porque na terapia os
problemas seriam outros.
Também é importante procurar um diagnóstico nos
casos de comprometimentos graves como a agressividade, por exemplo. O aluno
muito agressivo pode estar sendo violentado e a sua agressividade pode ser uma
vingança ou uma denúncia. Um aluno muito quieto, arredio, excessivamente tímido,
também requer atenção especial. Em casos assim a prática do diagnóstico, por
mais de um profissional inclusive, deve ser requerida.
Nos casos mais suaves que dão indícios de estarem
próximos da normalidade o diagnóstico pode
ser prejudicial. Ele rotula, limita a visão do profissional que procura ver o
aluno sempre com aquele olhar. Uma vez feito o diagnóstico o profissional deixa
de dar atenção completa. Tudo que não se encaixa no seu diagnóstico é
descartado.
Um diagnóstico pode se transformar em uma "profecia que se realiza a si própria" (p. 23).
Um diagnóstico pode se transformar em uma "profecia que se realiza a si própria" (p. 23).
É preciso dar atenção aos múltiplos indicativos de
necessidade, de vontade, de superação, de desânimo. Tudo isso sem rotular, sem
diagnosticar, sem fazer afirmações conclusivas.
Yalon cita que "André Malraux, romancista
francês, descreveu um padre da zona rural que tinha ouvido confissões por
muitas décadas e havia resumido aquilo que aprendera sobre a natureza humana da
seguinte maneira: 'Antes de mais nada, as pessoas são bem mais infelizes do que
imaginamos ... Não existe essa coisa de pessoa adulta.' Todo mundo - isso
inclui tanto os [professores] quanto os [alunos]-está destinado a experimentar
não apenas alegria na vida, mas também sua inevitável escuridão: desilusão,
envelhecimento, doença, isolamento, perda, sensação de falta de sentido,
escolhas dolorosas, [descontentamento com alguém ou alguma disciplina], [desejo
de abandonar a escola] e morte" (p. 25).
Diante disso Yalon diz que prefere pensar nos seus
pacientes como seus companheiros de viagem e narra uma história interessante de
parceria. A história de dois curandeiros concorrentes que não se conheciam: um
jovem e um experiente. Tinham métodos diferentes, mas tinham sucesso e alcançaram
fama. O jovem ouvia os peregrinos que o procuravam sem recriminá-los e eles
saíam aliviados do fardo que os oprimiam. O experiente, por sua vez,
intervinha, opinava, mostrava os erros cometidos por eles, “adivinhava e
confrontava-os com os seus pecados inconfessos, ordenava penitências e obrigava
os inimigos a fazerem as pazes” (p. 26-28).
Passados os anos o jovem sentiu-se frustrado com o
seu trabalho porque era incapaz de curar a si mesmo, de aliviar o seu próprio
fardo, e resolveu procurar o seu concorrente, o curandeiro mais experiente.
Viajou pelo deserto e num oásis se deparou com um viajante mais velho que o
acolheu amavelmente.
Quando o jovem revelou o seu destino o curandeiro
experiente identificou-se e disse que também estava à sua procura porque
precisava dele como parceiro de trabalho. A realidade é que ambos os
curandeiros estavam feridos e sentiam-se incapazes da autocura.
Combinaram de trabalhar juntos e um ajudar o outro.
Por anos assim fizeram e continuaram tendo sucesso. O jovem tornou aprendiz do
experiente e este conselheiro do jovem.
Quando finalmente, a hora chegou para o mais
experiente este chamou o mais jovem para o último adeus e confessou que
recebera um milagre pela sua presença. Recebera dele o conforto quando se
encontraram porque também ele estava em desespero, ele também não se sentia
realizado e quando se encontraram estava à procura de um famoso curandeiro
jovem que aliviava o fardo de todos. Precisava de cura.
O milagre é que os dois se ajudaram mutuamente.
Finalmente, Yalon, conclui a história dizendo que o
verdadeiro milagre aconteceu quando ambos "abraçaram a honestidade"
de admitir que precisavam da ajuda um do outro.
O milagre da educação acontece quando professor e
aluno sentem que um precisa do outro.
Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), 05 de Janeiro de
2013.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
YALON, Irvin D. Os desafios da terapia: reflexões para pacientes e terapeutas. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
Interessante Sales, a aplicação que você fez desse princípio dos curadores feridos para a educação. É isso mesmo, todos somos companheiros de viagem. Se tivermos essa visão, tanto na vida educacional ou em outros aspectos, vamos perceber que a parceria é fundamental.
ResponderExcluirGenival Mota
Obrigado, Genival
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