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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

MELHORAR A EDUCAÇÃO-II


      Escrevi no texto anterior que mais dinheiro para a educação não garante melhoria na qualidade da mesma. Creio ser oportuno fazer um pequeno reparo acrescentando que isso não acontece a curto e médio prazo. Talvez contribua a longo prazo porque o aumento no salário poderá motivar muitos jovens a ingressarem no magistério. Esse fator aumenta  a probabilidade de que jovens comprometidos com a educação e ousados nem suas iniciativas ingressem na carreira.
Também escrevi no texto anterior  que ninguém  (nenhum professor) pergunta ao promotor da infância e da juventude ou ao conselho tutelar o que fazer com o aluno que se recusa dar atenção à aula ou participar das atividades propostas, que não faz tarefas, que desrespeita o professor.
Talvez haja alguma  razão para isso, isto é, para que o professor não faça essas perguntas. Fiz algumas suposições:
1.O professor teme ter uma resposta que não quer aplicar. Ele não quer mais compromisso com a educação.  Está desmotivado. Essa é uma hipótese.
2.A outra hipótese é que ele já sabe a resposta que vai receber. “Tem que dialogar como o aluno”. Como ele já gastou toda a sua habilidade dialógica e não conseguiu nada então nem quer tentar ouvir isso outra vez.
3.Ele não sabe ser professor, isto é, não sabe separar o pessoal do profissional, portanto, não saberá fazer nada do que for recomendado.
Com relação à primeira hipótese  é um fato já comprovado pelas pesquisas que aumenta a cada ano o número de professores com a Síndrome de Burnout. Estão sem energia ou sempre estiveram sem energia?  Quem está desmotivado já não estaria quando ingressou? A pergunta parece intempestiva, mas merece uma pesquisa.
Com relação à segunda hipótese devo concordar que o diálogo é a melhor saída para os problemas. Uma única ressalva: ele é a melhor solução para os problemas que têm solução. Quando se trata de relações humanas há  situações em que uma das partes envolvidas não está interessada em resolver o problema. A situação constrangedora para o outro satisfaz o seu ego ou representa uma vingança contra alguma situação constrangedora que sofreu em algum outro lugar.
Se ela está se vingando como irá se abrir para o diálogo com quem não vai resolver o seu problema?
O diálogo com uma pessoa assim requer um preparo e um tempo especial que o professor não tem.  Há casos em que o tratamento é longo e requer profissional especializado. Mesmo assim existem as reincidências múltiplas que atestam a complexidade do problema.
Para dialogar com alguém que se insubordina é preciso olhar nos olhos
Nossas crianças e jovens já perceberam que  com a curvatura da vara o adulto está fragilizado perante ele. Ele não teme mais o olhar nos olhos e se o professor fizer isso será denunciado pelo aluno como estando querendo intimidá-lo, sendo ameaçador, etc.
A defesa do mais fraco é legítima, mas não pode ser indiscriminada. É preciso defendê-lo de abusos, mas não de ser educado.
A receita de um diálogo para quem já está pedindo socorro não ajuda muito. É preciso algo mais, é preciso mediação,  intervenção. É por essa razão que defendo que o aumento de verbas para a educação deve vir acompanhado de um projeto para atender essas emergências que não são poucas. Os anos de tratamento inadequado ao problema agravou a situação. Os problemas vividos nas favelas do Rio de Janeiro e a união de forças das diversas esferas  do poder público, para  retomar o controle,   são um exemplo do que estou dizendo. O contexto escolar  não difere muito do que foi vivido lá, exceto, talvez, na intensidade por causa da pouca idade dos envolvidos e do preparo do professor.
 Por último preciso explicar o que quero dizer com não saber ser professor. O professor é um profissional que normalmente não tem no seu curso uma disciplina chamada ética profissional. Há pouca, quase nenhuma, discussão sobre a solução de conflitos em sala de aula, sobre o que é ser profissional. É preciso melhorar o programa das licenciaturas. O professor das licenciaturas deve ser alguém que viveu a sala de aula na educação básica e teve sucesso.
Melhorar a educação requer tudo isso.
Antonio Sales   profesales@hotmail.com
Nova Andradina,  22 de setembro de 2012.

domingo, 23 de setembro de 2012

MELHORAR A EDUCAÇÃO



Muito se fala em melhorar a educação brasileira. Há quem compare com a China e outros  países denominados “tigres asiáticos”, mas esquecem de que a cultura é outra ( assunto para outro texto). Não se compara a educação em culturas diferentes.  Um problema aqui no Brasil é que parece haver um acordo tácito (contrato didático, segundo Brousseau) entre alguns professores e um considerável número de alunos. As regras desse contrato seriam: você não precisa me ensinar desde que não me reprove. Isto é, não precisa fazer nada mas, por favor, não se denuncie me reprovando para não me obrigar a dizer o que aconteceu.
Outros falam em investimentos na educação como solução para o problema. Investimentos financeiros, evidentemente. Chegam a falar em 10% do PIB. Acontece que países com educação de qualidade não investem isso tudo o que significa dizer que  a péssima qualidade da nossa educação não está relacionada somente à falta de investimentos financeiros.  Talvez tenham sua origem nessa falta, mas não está mais condicionada a ela.
Concordo com quem disser que o professor deve ser mais bem remunerado, mas não creio que isso contribua muito para a melhoria da qualidade na educação. Melhorará a vida econômica do professor  e isso é importante, mas não melhorará, necessariamente  a educação.
Estou certo de que outros programas devem acompanhar um maior investimento financeiro na educação, mas eu não saberia dizer quais. Quem está perdido não sabe indicar o caminho para ninguém. Eu estou perdido nesse labirinto chamado sistema educacional brasileiro. Sei relacionar tudo que não funciona, mas não sei propor uma praxeologia*.  Eu mesmo tenho tantos insucessos quantos sucessos na minha prática docente, mesmo trabalhando com professores e futuros professores. De vez em quando tenho ilhas de sucesso. De vez em quando tenho alunos que me surpreendem e tenho professores que dizem ter mudado a sua postura a partir das minhas orientações.  Observe a ênfase na frase “de vez em quando”.
Quando professor da educação básica também tive  apenas ilhas de sucesso.  De vez em quando encontro um ex-aluno que me cumprimenta e diz que deve o seu sucesso profissional  à influência que exerci na vida dele. Mesmo assim, muitas vezes, tenho dúvidas se ele vem me agradecer ou apenas  anunciar o seu sucesso.
Não tenho nada contra alguém vir anunciar o seu sucesso.  Aliás, o fato de vir anunciar exatamente a mim indica especial consideração para com a minha pessoa. Sinto-me orgulhoso. Agradeço sinceramente a todos que já fizeram isso. Minha dúvida é: contribuí para o seu sucesso ou apenas não atrapalhei? Ele veio dizer-me: obrigado por ajudar-me ou obrigado por não atrapalhar?
Lembro-me de apenas três casos que não deixaram dúvidas quanto à minha contribuição. Um deles foi meu aluno por um ano e aguardou, segundo ele, uns 15 anos para me reencontrar e agradecer. Havia, segundo ele ainda, avisado a esposa que tinha essa necessidade de se encontrar comigo. O outro foi meu aluno por um dia e voltou 15 dias depois (nas palavras dele) somente para me agradecer. O terceiro nem foi meu aluno. Minha contribuição foi indireta e eu o conheci no dia em que me procurou para agradecer. Ajudei-o com um conselho dado à sua mãe que já não sabia mais o que fazer com os insucessos escolares do filho. Como se pode ver,  de vez em quando eu acerto (ou apenas não erro totalmente?).
Exatamente por não ser um professor de muito sucesso é que me atrevo a fazer críticas ao nosso trabalho e aos discursos que ouço por aí. Se fosse totalmente bem sucedido seria deselegante criticar os colegas e se fosse  sempre malsucedido já teria desistido da profissão, logo, não estaria perdendo tempo com esse assunto.
Deixem-me agora falar o que penso sobre a questão da necessidade de altos investimentos para melhorar a educação, sem um plano previamente elaborado para um bom aproveitamento desses recursos.
Mais verbas não melhoram a educação porque não motiva o aluno a estudar, não o obriga a cumprir  as tarefas escolares, não o torna mais respeitoso para com o professor  e não ensina ao professor sobre o que falar aos pais nas reuniões de pais e mestres. Essas reuniões  são uma chatice.
 As reuniões com os pais são uma chatice porque os professores se limitam a parabenizar os filhos de uns e a denunciar os filhos dos outros. Dizem para o pai tudo o que o filho dele não faz, mas não acrescentam nenhuma sugestão, não propõem nenhuma parceria. Dizem tudo o que o pai já sabe, mas não dizem o que ele precisa saber.
Eu imagino o pai ouvindo as reclamações do professor e pensando: tudo isso eu já sei. Só não sei o que fazer. Alguma sugestão?
 Acompanhei um grupo de professores através de um projeto de extensão  e no final do ano pedi uma avaliação oral. Um professor disse: “este ano consegui fazer parcerias com os pais de alguns alunos-problema. Ajudou bastante”. Uma professora disse: “estou mais livre, estou conseguindo administrar os conflitos da sala de aula com mais liberdade”. Ilhas de sucesso. Outros professores sequer entenderam ou não quiseram entender a minha proposta. Tive sucesso ou insucesso?
O professor reclama o  tempo todo mas não apresenta propostas novas, não fala de seus novos planos, das suas novas leituras, das novas teorias que conhece dos objetivos da sua disciplina e de como ela pode contribuir para melhorar a qualidade de vida do aluno. É como um “canoeiro” que não sabe remar. Reclama de ser levado pela correnteza, mas não aciona o remo para diminuir  a velocidade ou mudar o rumo.
Lembremos que o dinheiro compra o alimento, mas não compra  a fome; traz conforto mas não traz satisfação profissional; compra o livro mas não compra o prazer de ler e  a inteligência.
Quando o corpo docente vai para alguma luta promovida pelo sindicato sempre  reclama de várias coisas, mas depois tudo se reduz ao salário. Só pensam nisso? Ninguém pergunta ao promotor da infância e da juventude ou ao conselho tutelar o que fazer com o aluno que se recusa participar da aula, desenvolver as atividades propostas, que não faz tarefas, que desrespeita o professor. Ninguém pergunta o que fazer com os pais que não comparecem às reuniões e não justificam. Pode cortar vale renda ou bolsa-família?
O que fazer com o professor que passa anos a fio sem apresentar uma nova proposta de trabalho?   Continua ganhando o mesmo salário que os outros?
Ninguém pergunta como o gestor pode ajudar. Quais as propostas que ele tem para diminuir esse fosso sem sobrecarregar ainda mais o professor? É fácil levar uma carga pesada quando se tem alguém para transportá-la e sobre o qual se joga toda responsabilidade e toda culpa se o fardo se romper.
Por outro lado, se o professor não tem contraproposta, como dialogar?
O que fazer com os pais que já perderam o controle sobre os filhos? Para onde encaminhar uma criança que já adoeceu socialmente e está infectando as outras?
Não é um labirinto? Por onde começar a melhoria da educação? Basta dinheiro ou precisa de algum projeto especial. Por que não uma proposta de educação especial para o aluno que já contraiu a doença socioinfectocontagiosa**? Por que não uma forma de “obrigar” os pais virem à escola participar da educação dos filhos? Por que não uma cartilha para ensinar o que  professor deve falar aos pais nessas reuniões?

 Antonio Sales    
profesales@hotmail.com

Nova Andradina, 21 de setembro de 2012

(*) Uma prática racional, eficaz.
(**) Drogadição, desinteresse pelo estudo, agressividade.