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sábado, 5 de maio de 2012

EDUCAÇÃO É COISA PARA A FAMÍLIA?-II



Ao escrever sobre os vários temas  tenho consciência da dificuldade que alguns deles  apresentam para serem operacionalizados. Não quero que os colegas suponham que eu daria conta, tranquilamente, de operacionalizá-los.  Sei que em muitos casos  a operacionalização não depende somente do professor. O contexto social no qual atua oferece as suas  barreiras, a cultura geral da nossa população ainda é de valorizar mais outros profissionais do que o professor. É possível que muitos pais acreditem mais no que disser um médico do que no que disser um professor sobre a educação dos seus filhos.
Tenho consciência que esse tema que estou abordando (a escola  orientar os pais na educação dos seus filhos) é um desses temas difíceis de serem operacionalizados. Apesar de ter essa consciência sinto-me no dever de escrever sobre a responsabilidade do professor em ajudar as famílias na educação dos filhos. Não desisto da ideia.
Alguns leitores, após a leitura do primeiro texto, fizeram observações interessantes. Um alertou para o fato de que deveria começar pela formação do professor porque ele não está preparado para essa tarefa.
Ninguém está preparado e nunca estará se não começar. Sem se envolver no processo ninguém se prepara. Penso que a formação  é um segundo passo. Primeiro surgiu a necessidade da escola para depois pensar na formação do professor. Não creio que tenham criado a escola para dar emprego algum professor  formado. Primeiro apareceu  a dor  de cabeça para depois se pensar em produzir o remédio. É sempre assim.
Esse discurso de que primeiro tem que preparar o professor para depois trazer inovação para a escola parece-me muito frágil. Primeiro o problema, depois a solução. Solução emergencial (“quebra-galho”) no início e depois se teoriza e forma o profissional.
É assim que concebo a dinâmica da sociedade.
Outro leitor  assim se expressou:
 “[...] na sociedade contemporânea aqui no Brasil o professor precisa ser três em um, MESTRE  dominar a matéria, EDUCADOR  proporcionar meios para o aluno assimilar e CIDADÃO considerar em seu trabalho a [legislação]” .    
Raciocínio perfeito. Tão perfeito que se aplica a todas as profissões.  Entendo que todo profissional que se preza leva em conta esses três fatores.     
Um professor que não é cidadão não forma cidadãos. Um professor que não conhece a legislação pertinente não sabe o que fazer diante da indiscplina.
Tenho visto professores se referirem ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) com uma expressão de nojo: pronunciam ECA como se  tivessem alertando de que se trata de uma “caca” como se faz com crianças quando se quer produzir nojo, por algo,  nelas.
Lamento que nós não conheçamos o ECA.
Por não ser jurista não posso julgar a pertinência dessa lei e, nem mesmo, apontar possíveis falhas ou inconvenientes nela. Mas creio que as há, já que nada é perfeito. Acredito até na necessidade de uma atualização na mesma uma vez que a sociedade é dinâmica e alguns anos já se passaram desde a sua formulação.
No entanto, é a lei que está posta e até que se mude é por ela que devemos nos pautar. Precisamos, portanto, conhecê-la.
 Ao visitar uma escola a diretora que estava às voltas com problemas com alunos indisciplinados  me recebeu perguntando o que fazer quando se vai corrigir um aluno e ele cita o ECA em sua defesa.
Iniciei a conversa propondo que ela pensasse nas seguintes questões: o aluno cita o Eca ou faz referência [vaga] a ele? Ele conhece o ECA ou aposta na nossa ignorância? Ela tinha um ECA sobre a mesa para mostrar ao aluno que ela também o conhecia? Já havia pedido a algum aluno para mostrar onde estava escrito o que ele havia dito?  Já havia promovido uma discussão com os professores sobre o ECA? Já  havia convidado um especialista para falar aos professores sobre o ECA?
Na Universidade onde coordeno Estágio Supervisionado temos convidado,  todos os anos,  um especialista ou uma instituição para falar aos estagiários sobre o tema e não temos encontrado dificuldades em conseguir. Já tivemos palestras com o Juiz da Vara da Infância e da Juventude, com o Promotor da mesma vara, com instituições que  trabalham com proteção da criança e com conselhos tutelares. Essas palestras têm sido muito produtivas. Penso que estamos preparando o aluno para conhecer a legislação. E isso pode ser feito em qualquer escola desde que os professores compareçam para participar.
É preciso começar por algum lugar. O que não podemos é cruzar os braços e ficar chorando “na beira da estrada”.
Antes de concluir convido o leitor a consultar o que escrevi em  http://eticadocentesales.blogspot.com.br/2011/10/os-direitos-da-crianca-e-do-adolescente.html

Nova Andradina, 03 de maio de 2012.
Antonio Sales              profesales@hotmail.com

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