Ao escrever sobre os
vários temas tenho consciência da
dificuldade que alguns deles apresentam
para serem operacionalizados. Não quero que os colegas suponham que eu daria
conta, tranquilamente, de operacionalizá-los.
Sei que em muitos casos a
operacionalização não depende somente do professor. O contexto social no qual
atua oferece as suas barreiras, a
cultura geral da nossa população ainda é de valorizar mais outros profissionais
do que o professor. É possível que muitos pais acreditem mais no que disser um
médico do que no que disser um professor sobre a educação dos seus filhos.
Tenho consciência que
esse tema que estou abordando (a escola
orientar os pais na educação dos seus filhos) é um desses temas difíceis
de serem operacionalizados. Apesar de ter essa consciência sinto-me no dever de
escrever sobre a responsabilidade do professor em ajudar as famílias na
educação dos filhos. Não desisto da ideia.
Alguns leitores, após a
leitura do primeiro texto, fizeram observações interessantes. Um alertou para o
fato de que deveria começar pela formação do professor porque ele não está
preparado para essa tarefa.
Ninguém está preparado
e nunca estará se não começar. Sem se envolver no processo ninguém se prepara.
Penso que a formação é um segundo passo.
Primeiro surgiu a necessidade da escola para depois pensar na formação do
professor. Não creio que tenham criado a escola para dar emprego algum professor formado. Primeiro apareceu a dor
de cabeça para depois se pensar em produzir o remédio. É sempre assim.
Esse discurso de que
primeiro tem que preparar o professor para depois trazer inovação para a escola
parece-me muito frágil. Primeiro o problema, depois a solução. Solução
emergencial (“quebra-galho”) no início e depois se teoriza e forma o
profissional.
É assim que concebo a
dinâmica da sociedade.
Outro leitor assim se expressou:
“[...] na
sociedade contemporânea aqui no Brasil o professor precisa ser três em um,
MESTRE dominar a matéria, EDUCADOR proporcionar meios para o aluno
assimilar e CIDADÃO considerar em seu trabalho a [legislação]” .
Raciocínio perfeito.
Tão perfeito que se aplica a todas as profissões. Entendo que todo profissional que se preza leva
em conta esses três fatores.
Um professor que não é
cidadão não forma cidadãos. Um professor que não conhece a legislação
pertinente não sabe o que fazer diante da indiscplina.
Tenho visto professores
se referirem ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) com uma expressão de
nojo: pronunciam ECA como se tivessem
alertando de que se trata de uma “caca” como se faz com crianças quando se quer
produzir nojo, por algo, nelas.
Lamento que nós não
conheçamos o ECA.
Por não ser jurista não
posso julgar a pertinência dessa lei e, nem mesmo, apontar possíveis falhas ou
inconvenientes nela. Mas creio que as há, já que nada é perfeito. Acredito até
na necessidade de uma atualização na mesma uma vez que a sociedade é dinâmica e
alguns anos já se passaram desde a sua formulação.
No entanto, é a lei que
está posta e até que se mude é por ela que devemos nos pautar. Precisamos,
portanto, conhecê-la.
Ao visitar uma escola a diretora que estava às
voltas com problemas com alunos indisciplinados
me recebeu perguntando o que fazer quando se vai corrigir um aluno e ele
cita o ECA em sua defesa.
Iniciei a conversa
propondo que ela pensasse nas seguintes questões: o aluno cita o Eca ou faz
referência [vaga] a ele? Ele conhece o ECA ou aposta na nossa ignorância? Ela
tinha um ECA sobre a mesa para mostrar ao aluno que ela também o conhecia? Já
havia pedido a algum aluno para mostrar onde estava escrito o que ele havia
dito? Já havia promovido uma discussão
com os professores sobre o ECA? Já havia
convidado um especialista para falar aos professores sobre o ECA?
Na Universidade onde
coordeno Estágio Supervisionado temos convidado, todos os anos, um especialista ou uma instituição para falar
aos estagiários sobre o tema e não temos encontrado dificuldades em conseguir.
Já tivemos palestras com o Juiz da Vara da Infância e da Juventude, com o
Promotor da mesma vara, com instituições que
trabalham com proteção da criança e com conselhos tutelares. Essas
palestras têm sido muito produtivas. Penso que estamos preparando o aluno para
conhecer a legislação. E isso pode ser feito em qualquer escola desde que os
professores compareçam para participar.
É preciso começar por
algum lugar. O que não podemos é cruzar os braços e ficar chorando “na beira da
estrada”.
Antes de concluir convido
o leitor a consultar o que escrevi em http://eticadocentesales.blogspot.com.br/2011/10/os-direitos-da-crianca-e-do-adolescente.html
Nova Andradina, 03 de maio de 2012.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
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