Para aposta nos outros é preciso apostar em si mesmo. Professor sabe apostar em si mesmo?
Quem tem medo de errar não ousa. Que não ousa não faz apostas, não acredita no seu potencial. Não ousa porque não sabe administrar o possível “fracasso”.
Apostar em si mesmo e no outro é correr riscos de “fracassar”. É preciso coragem e compromisso com a sociedade.
Falei em erro, na ousadia de arriscar a cometer erros. Não estou pensando nos erros estúpidos, nas ações programadas para prejudicar. Fazer algo mal feito para provar que o projeto proposto não dá certo é estupidez, não é erro. Atacar o outro apenas para vê-lo derrotado é desumano, especialmente se ele não veio para lutar contra nós. Atacar um projeto somente para esconder a minha incompetência para executá-lo é covardia. Não falo desse erro. Sou contra a falta de ética, contra a imoralidade, contra a covardia.
Falo do erro de processo. Daquele plano que você faz para dar certo e dá errado porque alguma coisa não prevista aconteceu. Porque interesses contrários intervieram. Coisas “invisíveis a olho nu” estão em todos os lugares. É difícil prever todas. O inesperado acontece.
Gosto de exemplos que ilustram a minha fala. Penso no artilheiro que foi escalado para chutar a bola. Ele almeja ver a rede balançando e planeja com cuidado o canto onde a bola vai bater. Inclina o corpo cuidadosamente, planeja a velocidade que dará maior impulso e imprimirá maior velocidade à bola. Ele chuta certo da vitória quando o goleiro “aparece’ na frente e intercepta a bola. Não houve fracasso. Ele sabia que isso poderia acontecer. Todos sabiam dessa possibilidade. O goleiro estava lá para isso. Ele também fez os seus planos, também cumpriu a sua parte. O artilheiro não “viu” que a bola poderia passar mais perto do goleiro do que ele imaginava ou que o goleiro poderia pular exatamente para aquele lado. Fragilidades humanas. Limites difíceis de serem transpostos. “Coisas invisíveis”!
Seria injusto se o goleiro fingisse não estar se importando e aparecesse na hora apanhando o artilheiro de surpresa. Mas, ele estava lá e revelou também a sua intenção. Uma luta entre iguais. Os dois agiram com seriedade. Não houve maldade. Ninguém fez feio. Cada um fez o que devia ter feito. (Obs. É por isso que não entendo os torcedores de futebol. Tudo me parece tão lógico, tão artístico, tão belo que não vejo porque desejar que um perca e o outro ganhe.)
Não é feio não acertar. Feio é não tentar fazer algo diferente. Feio é ser mal intencionado, é buscar culpados, é provocar o outro para se desculpar. Feio é não assumir que errou, exceto quando alguém mal intencionado feriu a sua dignidade ou atrapalhou propositadamente os seus planos. Feio é assumir compromisso e depois ficar procurando desculpas para não cumprir a sua parte.
No exercício da profissão erramos muito, mas não podemos ser teimosos. Não podemos insistir no erro só porque nossos antepassados faziam assim. É preciso pensar no que se faz. Pensar para mudar estratégias, não para buscar culpados exceto quando eles se revelam claramente. Imprevistos acontecem, é preciso não esmorecer diante deles.
Há acertos que são feios. É feio acertar um chute em um cão ou um tiro em uma pessoa. É feio ferir propositadamente alguém, embora quem feriu tenha acertado em suas intenções. É feio colar, embora tire boa nota na prova. É feio copiar o livro no quadro para que o aluno transcreva para o seu caderno e ainda considerar-se professor. Nesse caso, é mais decente o aluno xerocopiar o livro.
Há coisas feias que se praticam o tempo todo e ninguém parece reclamar. São usuais. Há cosias bonitas que ninguém ousa praticar porque não são usuais. É preciso romper paradigmas para apostar.
O professor precisa fazer apostas em si mesmo. Quem fica preocupado em não “fazer feio” não ousa. É por isso que professor quer tudo pronto. Ele quer que o sistema lhe forneça tudo programado. Ele segue o índice do livro e quer um livro que esteja na sequência das diretrizes curriculares. Medo de “fazer feio”, medo de ser ele mesmo, medo de ser gente. Prefere ser máquina. Máquina não erra.
Para apostar em si mesmo é preciso distinguir o feio do bonito em termos de comportamento. Se esse dois conceitos estivem nebulosos não haverá aposta em ninguém.
Quando se faz bonito pensando que é feio e se faz feio pensando que é bonito, é triste. O professor precisa pensar sobre isso. Quem educa, quem tem sobre os seus ombros a responsabilidade de atuar na sociedade precisa ter certas clarezas.
Professor que segue ementa mesmo vendo que ninguém está aprendendo não é professor, é uma máquina de dar aulas. Professor que não dialoga não é humano. Professor que somente busca culpados é pobre intelectualmente. Professor que se impõe pela ameaça de notas baixas é um fracassado.
Professor que não ousa, que quer tudo pronto, que não acredita em si mesmo é medíocre. Quem é medíocre não aposta em si mesmo e nem nos outros.
Professor que quer apostar em si mesmo e nos outros deve sair da mesmice, deve ousar.
Campo Grande, 18 de janeiro de 2012.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Professor, li o seu texto e o considero estimulante para ser lido num começo de ano.
ResponderExcluirFaça bom uso, amigo. Depois conte-nos a reação dos leitores.
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