Há diferenças entre o que vejo e o que queria ver,
em termos de comportamento humano (e em outros aspectos da vida também). Há
diferenças entre o humano que atendo e o que queria atender, entre o aluno que
tenho e o aluno que queria ter, a família que o meu aluno tem e a família que
eu gostaria que ele tivesse. Há diferenças entre a escola onde trabalho e a
escola onde gostaria de trabalhar, o professor que tive ou tenho e o professor
que gostaria de ter.
Não é fácil viver com essa diferença entre o
disponível e o desejável. A situação fica mais difícil se esperamos que os
outros promovam a mudança. Mais difícil ainda se esperamos que os outros tenham
a receita, que exista uma mágica, que as coisas aconteçam por si mesmas ou que
nos digam que estamos sempre certos.
Viver nesse
meio de caminho, sem definir que ações realizar para aproximar os dois extremos
e seguir uma rotina discursiva e laboral, já tantas vezes repetidas
infrutiferamente, não me parece ser uma vida desejável.
Não sei o que vale mais a pena: pagar o preço de
uma decisão, com riscos de fracasso, de tentar mudar a rotina ou aceitar a
derrota ou repetir o discurso e as ações de tantos outros que não saíram da
mediocridade? Qual atitude nos trará menos sofrer?
Fazer é correr o risco de errar (ou de
acertar) e implica em estar disposto a
aceitar o possível fracasso ou administrar sabiamente a possível vitória. Não fazer é admitir que tudo
está bom ou submeter-se bovinamente a um sistema falido e admitir a
incapacidade para lutar.
Admitir o fracasso a priori, assumir a incompetência para o diálogo, temer
defrontar-se com a verdade e saber-se perdedor irreparável parece-me mais
cômodo. Pensar a possibilidade de mudança ainda que em longo prazo, alimentar
esperança e acalentar sonhos com as mangas
arregaçadas não nos parece fácil. Manter os músculos tensos e dispostos para a luta, mas com a cabeça aberta a novas
ideias, com disposição para o diálogo, com paciência para semear na expectativa
de que outros colherão os resultados, não tem sido uma tarefa empreendida por
muitos. Aceito que não é fácil mesmo.
A diferença entre o querer e o possível, entre o
desejado e o existente, é um fato
concreto, plenamente palpável, mas é, também, um fato mental, uma disposição de
espírito. É no âmbito das ideias que as
distâncias se ampliam.
Campo Grande, 22 de janeiro de 2013.
Antonio Sales
profesales@hotmail.com