Suponho que todo
professor já pronunciou ou ouviu a
expressão: “Educação vem de berço”. Outros dizem: “Educação é tarefa da
família”. Dizem os professores: “Não
estamos aqui para educar, somente para ensinar os conteúdos das disciplinas
escolares”.
Quanta verdade há nisso
tudo?
O que diz a legislação?
LDB (Lei nº 9394/06) afirma que:
“ Art. 1º. A educação abrange os
processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho,
nas instituições de ensino e pesquisa,
nos
movimentos sociais e organizações da sociedade
civil e nas manifestações culturais.
§ 1º. Esta Lei disciplina a educação
escolar, que se desenvolve, predominantemente, por
meio
do ensino, em instituições próprias.
§ 2º. A educação escolar deverá
vincular-se ao mundo do trabalho e à
prática social”.(grifos nossos).
Conforme podemos
observar, educação é um conceito amplo e uma
tarefa também de amplo espectro, isto é, para ser executada pelos
múltiplos segmentos sociais. A educação escolar deve, como se pode ver, estar
vinculada à prática social.
O que é isso?
Suponho que o documento
queira dizer que a escola, além de ensinar os conteúdo específicos de cada disciplina,
deve cuidar da formação do sujeito para o respeito à leis e outras normas de
convivência social.
Quando penso em outros serviços fico convencido de
que o meu pressuposto faz sentido. Se
observarmos o serviço de saúde, por
exemplo, percebemos que ele não é tarefa
somente da família. O mesmo podemos dizer da segurança. Vemos que não se delega
somente aos pais a proteção dos seus
filhos. Além da polícia a sociedade criou também instituições como os Conselhos
Tutelares, por exemplo, para ampliar a proteção da criança.
Há uma preocupação em
criar uma juventude socialmente saudável para que o futuro seja menos violento.
Nessa perspectiva, a escola deve unir forças com a família.
Se quisermos que a
sociedade tenha no futuro um perfil diferente do que presenciamos nem nossos
dias devemos investir fortemente em nossas crianças e jovens, devemos, como
profissionais da educação, assumir a responsabilidade de educá-las;
especialmente aquelas que os pais não educam. Não temos outra opção.
É certo que alguns pensadores,
como André Chervel, por exemplo, afirmam que a escola foi criada, pela
sociedade, para ensinar aos jovens aqueles saberes que a família e a religião
não estavam dando conta de ensinar. A ciência é um desses saberes cujo ensino,
atualmente, é tarefa exclusiva da escola. Logo mais, com a apropriação das
tecnologias da informação e da comunicação por um maior número de pessoas, a
escola, se quiser sobreviver, talvez, tenha que assumir o papel de ensinar
valores morais e discutir temas que hoje ela não considera de sua competência.
Se hoje a família (não
somente a do outro) está com dificuldades por que o profissional não pode se
integrar a um projeto de apoio às famílias? Não será para isso que as crianças
vão á escola?
O certo é que nós não sabemos o que fazer. É
tão certo isso que nos recusamos participar dizendo não ser nossa
responsabidade. Ora, se nossa vida na escola está se tornando
insuportável, por que permanecer apegado a um falso conforto de cruzar os
braços?
Temos presenciado
mudanças frequentes nas estruturas sociais. É preciso preparar-se para sobreviver
em uma sociedade diferente, em breve. Uma diferença que está sendo “implantada”
sem que percebamos.
Como nós, professores,
podemos entrar em um projeto de transformação social começando pelas famílias
dos nossos alunos?
Campo Grande, 10 de março de 2012.
Antonio Sales profesales@hotmail.com