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sábado, 25 de janeiro de 2014

APRENDENDO COM AS OUTRAS PROFISSÕES




Depois de muito sofrer sozinho, de passar por muitas situações profissionais que me afiguraram, naquele momento, como desesperadoras tenho procurado aprender alguma coisa com as outras profissões. Tornei-me um observador do comportamento humano do outro profissional e procuro entender as “entrelinhas” da sua comunicação. Sempre que possível entabulo conversa com profissionais de outras áreas procurando perceber como interpretam a sociedade, como veem a educação, como veem a sua profissão e assim por diante. Fico atendo ao que dizem, ao comportamento e, se possível, ao quase dito.
Nem sempre consigo por em prática o que aprendo, mas quando vou analisar uma situação que enfrentei procuro vê-la sob diversos ângulos. Penso como agiria, em circunstâncias, semelhantes outro profissional com outra formação.
Com os profissionais da saúde penso que podemos aprender que:
1.                      Mesmo sabendo que o paciente tem poucos dias de vida, que a sua hora final está “marcada”  e o prazo restante é curto, deve-se lutar para mantê-lo vivo ainda que seja por apenas uma hora além do prazo “previsto”.
2.                      Quando, finalmente, perceber que todos os recursos profissionais falharam, que nada mais resta a fazer para evitar o fim, então procurar proporcionar o máximo de conforto (ou mínimo de sofrimento) ao paciente. Evitar que morra com dor. Quando nada mais restar para fazer ainda é possível aliviar o sofrimento do moribundo com medicação, com palavras ou orientando a família sobre como lidar com a situação.
3.                      Quando, depois de tudo feito, o paciente vier a óbito, então, ser capaz de permanecer sem chorar e sem perder o sono. Isto é, aceitar as suas limitações, as limitações da ciência, as limitações humanas e, se ficar frustrado, não desforrar a sua frustração no outro paciente ou em quem quer que seja.
4.                      Se depois de todo esforço e frustração tiver que fazer um relatório do ocorrido dizer a verdade sem culpar o paciente, os familiares, o hospital ou quem quer que seja. Dizer apenas o diagnóstico que fez, o que era necessário fazer pelo paciente e o que conseguiu fez. Se faltou algum material informar sem agredir o sistema.
Conversando longamente certa vez com um advogado de sucesso percebi que:
1.                      O bom advogado não tem uma causa, tem um cliente. Ele tem que defender os interesses do cliente. Isso significa que como professor devo me preocupar primeiramente com o aluno e depois com a ciência.
2.                      Ao elaborar a sua defesa deve fazer o melhor que puder. Elaborar uma argumentação sólida, bem embasada legalmente ou em fatos, mas estar ciente de que o advogado da outra parte também pode estar fazendo o seu melhor e que a decisão final dependerá da interpretação do juiz e dos documentos que o outro apresentar. Logo, fazer o melhor e bem feito não é garantia de sucesso, não significa causa ganha.
Como professores, muitas vezes, estamos mais preocupados com a ciência do que com o aluno, com o sistema do que com o aprendizado do aluno, com o cumprimento da ementa ou do programa do que com a compreensão dos conceitos pelo aluno.
Quase sempre partimos do pressuposto de que um trabalho bem feito resulta, necessariamente, em sucesso. Ser profissional é assumir-se estar em um campo de batalha onde a vitória nem sempre estará do nosso lado.
O Tamoio cantava: “não chores meu filho, não chores que a vida é luta renhida; viver é lutar”.
3.A terceira lição que aprendi com o advogado é que ele deve estar ciente de que o advogado da outra parte não é seu inimigo, ele apenas defende os interesses da outra parte.
Aprendi também conversando com um dentista quando tive que fazer um implante dentário. Enquanto discutíamos o orçamento ele me informou que havia outro produto de preço mais módico, de estética e resistência inferiores, mas que tinha a mesma probabilidade de aceitação pelo organismo e se tudo desse certo resolveria também o meu problema de mordida.
Ante de prosseguir o relato aqui um incidente que julgo interessante. Encontrei, após algum tempo de ausência, um ex-aluno do curso de matemática. Jovem, dinâmico,  cheio de planos, com bom domínio de conteúdo e, supostamente, com boa didática.
A me visualizar no ambiente onde estava procurou-me para falar dos seus planos. Pretendia abrir um curso de reforço de aulas de matemática e, tão confinante estava na sua técnica de ensino, que poria no panfleto de divulgação algo mais ou menos assim: “se o seu filho não aprender devolveremos o dinheiro”.
Ouvi-o com atenção e falei dos aspectos positivos do seu plano, mas chamei a sua atenção para a ousadia da sua divulgação. Disse-lhe que o seu curso lhe daria prejuízo em pouco tempo porque quem trabalha com seres humanos não pode dar garantias.
Citei o caso do dentista. Se eu optasse pelo material de primeira linha ele garantiria a estética e a resistência do material, mas não garantiria a aceitação do meu organismo. Em qualquer caso, se tudo desse certo, o meu problema ficaria resolvido. Evidentemente que ele deu esperança, falou que os casos de rejeição são minoria, mas não eliminou a possibilidade de fracasso na empreitada.
Penso que a grande lição que aprendi com os outros profissionais é essa: QUEM TRABALHA COM SERES HUMANOS NÃO PODE DAR GARANTIAS E NÃO PODE SE FRUSTAR PLENAMENTE SE A AÇÃO RESULTAR EM FRACASSO.
Não tem sido fácil por em prática essas lições aprendidas, mas se alguém puder se beneficiar delas valeu a divulgação.
Campo Grande, 11 de outubro de 2013.
Antonio Sales                                profesales@hotmail.com






quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O SINDICATO COMO RELIGIÃO



Parece-me que há certa semelhança entre o modo de agir dos sindicatos e alguns credos religiosos. Em que consiste essa semelhança? Em quais aspectos os dois se aproximam?
As religiões cristãs têm como pressuposto básico a existência do diabo. Esse ser, por vezes cognominado de "tinhoso", é o responsável por tudo que acontece de mal com as pessoas. Os adeptos de algumas dessas religiões não são responsáveis por nada ou quase nada do que fazem ou do que enfrentam. Nesses cultos, os conflitos familiares não são resultados de falta de respeito, não resultam da falta de cortesia ou de dedicação, nunca é produto do alcoolismo, não resulta do descuido no trato com o outro, nem é falta de recursos financeiros ou má administração do dinheiro, é sempre a presença do "tinhoso" no ninho doméstico.
Nessa perspectiva a baixa renda não tem reação com a falta de preparo para o mercado de trabalho, simplesmente é culpa do diabo que não deixa o sujeito ganhar mais. Ser despedido do emprego nada tem com a falta de preparo, com irresponsabilidade ou falta de compromisso, é sempre o inimigo invisível, o dito Satã que atravanca o processo.
Dessa forma os adeptos de tais religiões nunca são estimulados a melhorar como pessoa, porque o problema nunca está neles. Não há razão para a instituição promover cursos ou reuniões de preparo porque todo problema está fora do sujeito e fora do controle.
Nos sindicatos acontece algo semelhante. Para os sindicalistas o problema da educação é o sistema, o governo, o aluno e a família. Nada do que acontece tem a ver com a formação do professor, com o seu envolvimento pessoal com a educação, com o assumir-se professor.
 O professor assume que o problema da educação é da família e que, se esta falha, nada lhe resta fazer como profissional. Não se preocupa sobre o que dizer aos pais que desesperadamente buscam ouvir uma palavra sua. Assume que ser professor é simplesmente transmitir informações que já estão nos livros e, por vezes, nem mesmo as incrementam ou buscam dialogar com os alunos.
Nenhum professor apresenta um projeto sobre como reorientar as atividades da escola visando diminuir a violência interna e melhorar a participação dos alunos. Seu pensamento está sempre em inibir ações dos alunos e não em reorientar e promover ações. Mas, na perspectiva dos sindicatos, isso não é papel dele. Pelo menos não se vê essa discussão sendo posta em pauta.
Esquecem que salário, embora seja importante e necessário, não é suficiente para constituir o sujeito como profissional comprometido. Ele não garante que o professor fará leituras sobre como orientar pais e bem se relacionar em ambiente de trabalho.
Não há discussão sobre a formação inicial do professor porque é ela que constitui a sua identidade profissional. É durante a formação inicial que ele deve ser orientado sobre leituras de relacionamentos, gestão escolar democrática, elaboração de projetos, diálogos na educação, promoção da autonomia, potenciais da educação escolar, potenciais educativos e usos da tecnologia.
Onde entra o sindicado nessa discussão de formação inicial?  Onde o sindicato põe em pauta o preparo do professor para coordenar uma reunião de pais? Qual a contribuição do sindicato na formação do professor para participar dos Conselhos Municipais onde pode opinar sobre a gestão da sua comunidade?
Antonio Sales
Campo Grande, 13 de janeiro de 2014.

sábado, 11 de janeiro de 2014

UMA ESTRANHA EQUAÇÃO: 1+1=4



 Quando um mais um é igual a quatro?
Lia um livro de Yalon (*) quando deparei com essa estranha igualdade.  Ela contava a experiência com uma paciente com câncer de mama, já mastectomizada e com metástase. Quimioterapia e radioterapia também estavam em curso.
Ele pretendia iniciar um grupo de terapia paciente com câncer, em estado terminal, quando essa mulher apareceu em seu consultório.
O psiquiatra afirma que a presença dela trouxe à tona a sua fragilidade como terapeuta, fê-lo pensar na sua própria morte. Narrando o inicio do tratamento diz que semanalmente se encontravam em seu consultório os quatro: ele, ela, a morte dela e a morte dele, isto é, 1+1=4. Antes da chegada dela, ele era sozinho e se ele a deixasse no consultório ela ficaria sozinha. Os dois juntos se transformavam em quatro.
  Penso na relação professor/aluno, penso no meu trabalho. Penso na muitas vezes em que olhei para um aluno durante a aula e nós dois nos transformamos em quatro. Ele, a dificuldade dele em entender, eu e a minha dificuldade em tornar o conhecimento acessível a ele.
Tenho dificuldades em completar a corrente da transposição didática de que fala Chevallard: academia (produção da ciência), instituições sociais (interesses sociais e políticos), professor e aluno.
Mais triste ainda é quando 1+20=42. Fica pior ainda quando 1+20=50. Eu, vinte alunos, nossas dificuldades (já mencionadas), a desilusão de alguns deles e ainda alguns planos de desistência das minhas aulas.
Conheci a Mônica (nome trocado de uma acadêmica muito simpática) numa turma de primeiro ano nas aulas de fundamentos da matemática.
Sempre procuro ser muito comunicativo em minhas aulas, procurando envolver todos no processo, mas da Mônica eu só conseguia arrancar um sorriso. Um sorriso simpático, mas que me intrigava. Ele me dizia gosto da sua comunicação, do seu entusiasmo, mas não entendo nada do que dizes. Era eu, ela, a dificuldade dela, a minha dificuldade e a tolerância dela para com a minha dificuldade (1+1=5).
Na hora dos exercícios a Mirna (nome também trocado) sentava ao lado dela e tentava ajuda-la, mas ela somente sorria (1+1+1=7). No segundo semestre ela não voltou. Soube que estava se preparando para outro vestibular.
Alguns anos depois, ao visitar uma Concessionária, deparei-me com Mônica. Sorri para ela e ela sorriu para mim. Nosso sorriso lembrava algo estranho: 1+1=5.
Aproximei-me e quis saber como estava e o que tinha feito durante essa ausência. Formara-se em História, tinha desenvolvido um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) com um tema apaixonante para ela e continuava trabalhando na Concessionária.
Parabenizei-a pelo sucesso acadêmico e pela felicidade que ela demonstrara ao me falar da formatura e do TCC. Por sua vez ela também procurou ser simpática comigo falando que gostava das minhas aulas pelo meu entusiasmo, minhas lições de vida durante a exposição da matéria, meu respeito pelos alunos, mas, concluiu, eu não entendia nada  da Matemática que o professor apresentava. Disse ainda que achava graça de eu ter tanto entusiasmo com um conteúdo que não significava nada para ela.
 Encontrei com Mirna e falei do encontro com Mônica. Mirna disse: “ela não entendia nada, mas dizia gostar das suas aulas. Ainda hoje quando nos encontramos ela pergunta pelo senhor”.
Na vida de um professor há situações que levam à igualdade: 1+1= muitos.
Antonio Sales
Campo Grande, 11 de janeiro de 2014.
  (*)Yalon, Irwin D. Mamãe e o sentido da vida: historias de psicoterapia. Rio de Janeiro: Air, 2008.

 


quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A ESCOLA É SEM GRAÇA




Graça aqui tem sentido amplo. Tanto pode significar bom humor como ter aquela conotação que os religiosos lhe dão: disposição para acolher,  aceitação, disposição para  suportar as limitações humanas,  estabelecer vínculos marcados pela compreensão e diálogo.
Márcio (*) é um garoto de sete anos muito esperto, gosta de estudar e, como filho de um empresário de sucesso, já acompanha o pai em alguns negócios da firma (compra e venda de carros e terrenos, por exemplo). É muito bem humorado também. Conversa  como adolescente e dá gargalhadas como  criança. Estuda numa escola particular.
Pedi-lhe que me falasse da sua escola. Deu uma gargalhada infantil e disse: "ninguém merece uma escola daquela".
Perguntei a razão e ele explicou que a professora é mal humorada e por qualquer coisa que os alunos fazem chama a diretora.
Quis saber o que fazem os alunos e Márcio, após mais uma gargalhada, disse que jogam "aviõezinhos" na professora porque ela é muito chata e eles gostam de vê-la irritada. Talvez ele tenha exagerado um pouco em sua fala, mas há algo revelador.
Manoel (*) também tem sete  anos, é filho de professores, muito esperto  mas não gosta de estudar, embora também esteja matriculado numa escola particular. Detesta ir à escola e sempre fica procurando pretexto para faltar às aulas. Os pais pensam que é preguiça.
Sua mãe é professora universitária e partilha das minhas ideias sobre educação. Sempre conversamos sobre isso. Um dia ela me telefonou. Tinha algo a me contar. Fiquei curioso. Disse-me que o filho lhe pedira para explicar um assunto que não entendera na aula. Após a explicação ele disse: "que legal! Por que a senhora não vai ser nossa professora?!"
Quando ela  disse  que só sabia dar aulas para adulto, o filho, num gesto de quem diz  "se toca, né",  explicou : "é só pegar o livro, copiar no quadro, mandar os alunos copiarem e depois dizer a página". A escola poderia ser mais sem graça?
Milena(*) tem 12 anos, é bem comportada, um pouco tímida e, pelo que deixa transparecer, sem muitas aspirações, mas gosta de estudar.  Também estuda em escola particular. Perguntei sobre a sua relação com escola e ela me disse que gosta da escola porque tem regras. Propus uma brincadeira: eu seria um mágico capaz de fazer desaparecer o que quisesse e ela escolheria o que deveria desaparecer. Pedi que escolhesse o que deveria desaparecer da sua escola e da sua cidade. Não soube definir o que deveria tirar da escola e somente com algum esforço lembrou que deveria fazer desaparecer a poluição da sua idade.
Eu não esperava que todos odiassem a escola. Para alguns ela tem mesmo atrativos; os mais comportados são bem atendidos por ela e gostam da escola. O que me preocupou foi a falta de senso crítico. Não há congestionamento de carros na hora de buscar os filhos no final do turno? Não falta laboratório de ciências?
A escola não produz reflexão, apenas ensina a ordem, a disciplina. Isso é educação? Essa escola forma cidadãos?
Uma vez por mês viajo da cidade interiorana onde trabalho para passar um final de semana na capital do meu estado. Em uma das viagens conversei com Marília (*), entre 15 e 17 anos, terminando o ensino médio, uma menina quem tem sonhos e estuda numa bem conceituada escola pública da cidade. Como sempre, perguntei sobre a sua relação com a escola e especialmente com a Matemática. Estava chateada.  Era abril ou maio, não lembro bem a data, e a classe já estava insuportável. A sua turma e o professor estavam em conflito. Na primeira prova os alunos não se saíram bem e o professor os chamou de irresponsáveis. Foi o suficiente para que a classe se tornasse apática, contrariasse as ordens do professor, inclusive, brincando com o celular durante a aula e o professor se desgastasse em “berros” para conseguir alguma atenção.
Que situação mais carente de graça!
Márcio (*) é Licenciado em Matemática e Mestre em Educação Matemática. Foi meu aluno na licenciatura e antes de ingressar no mestrado foi coordenador de área nos anos iniciais de uma escola publica. Conversávamos muito sobre educação. Um dia ele estava decepcionado e disse que o seu trabalho era sem graça porque tinha que fazer reuniões de estudos com as professoras, mas elas nunca estavam dispostas. Tinha que visitar as salas aula, mas cada vez que assistia a uma aula de alguma professora saía sem saber o que falar porque esta estava tão longe do mínimo  esperado que não sabia por onde começar a fala.
Naquele dia assistira a aula da professora Mercedes (*), professora não efetiva e cuja convocação se repetia por muitos anos por influência da diretora que era sua amiga. A aula, segundo ele, tinha sido pior do que sofrível porque a professora estava "ensinando" geometria no quarto ano, mas gastou o tempo todo copiando o livro no quadro com definições e figuras. Tudo o que tinha no livro foi para o quadro e o aluno copiou. Nada mais aconteceu: nem explicação, nem diálogo, nem exemplificações. "Foi uma aula cala a boca", disse ele. Um dia ele me convidou, com a anuência da direção e coordenação, para uma fala com algumas professoras que estavam com dificuldades para ensinar alguns tópicos da Matemática. Aceitei o convite e no horário combinado estava lá com duas ou três professoras. Conversamos, falei sobre o objetivo daqueles tópicos estarem no currículo e fiz sugestões de abordagens. Mais tarde fiquei sabendo que ele quase foi ele execrado por levar alguém de fora para  lhes falar.
A escola não é apenas carente de atração, é carente também de graça, daquela  graça que dá sentido à vida. A escola é hostil. Ha uma carência de sentido na escola, por isso ela é sem graça.
Malthus (*) também foi meu aluno no curso de licenciatura. Não se identificava com os meus discursos na disciplina de estágio. Queria ser engenheiro ou estudar Matemática Aplicada ou Pura, mas sem opção fez licenciatura e se tornou professor da educação básica.
Nós falamos pouco porque nos encontramos pouco e porque a minha linha de raciocínio não interessa a ele. Sou da Educação Matemática e ele ainda não se identificou com ela. Mesmo assim de vez em quando nos falamos. Ele é coordenador de área nos anos finais da educação básica de uma escola pública e eu sempre estou visitando escolas. Nossos caminhos por vezes se cruzam e falamos sobre educação, mesmo que esse não seja o seu foco.  Não faz muito ele disse: "professor, não sei quem está desmotivando quem, se é o professor quem desmotiva o aluno ou é o aluno quem desmotiva o professor; o que sei é que a sala de aula é um ambiente onde ninguém tem interesse: nem professor e nem  aluno".
Não sabendo o que dizer, perguntei: por onde começar para romper esse círculo vicioso?
Ele, embora não usando exatamente essas palavras, disse que quando sugere alguma atividade para o professor este pede que ele exemplifique em sua sala de aula. Ele vai, mostra que a sua sugestão funciona e fica esperando que o professor se prontifique a prosseguir, mas este diz: você poderia continuar vindo fazer isso aqui? Os alunos gostaram tanto!
A escola é sem graça, porque falta graça (engajamento, disposição) ao professor. O aluno se adapta a essa realidade, reflete isso e reforça esse comportamento.
Paulo Freire, em um diálogo com Papert (divulgado pelo YouTube), afirmou  que escola, para se manter, vai se reinventar.
Reinventar a partir de onde?  Como se reinventar se ainda não se deu conta da sua condição? Normalmente, procuramos pelo caminho quando nos sentimos perdidos, como a escola vai buscar caminhos se sente que está bem?. Ficam as perguntas.
Antonio Sales
Araranguá, SC, 24 de dezembro de 2013.
(*) nomes trocados para evitar identificação.